Cinza

Outro dia compartilhei um desabafo no Facebook, pois eu estava irritada com algo que tem acontecido com frequência. Lendo os comentários e mensagens privadas que me foram enviadas, percebi que o pessoal achou que eu estivesse me sentindo solitária e deprimida. O que não era o caso, mas os conselhos dados foram muito bons e eu os guardei, caso um dia eu volte a ter depressão.

Um dos conselhos foi tomar sol – conselho dado por uma boa amiga que mora em Portugal, onde o sol é sempre um bom companheiro. A coisa é bem diferente na escandinávia. É raro ter sol nos meses de inverno. Olha a previsão do tempo para Copenhague nos próximos 10 dias. A natureza aqui não colabora com aqueles que sofrem de depressão. Pelo contrário, ela é causa da famosa “depressão de inverno”.

Outro conselho foi meditação. Já tentei várias técnicas de mindfulness, as não funciona pra mim.

Vasculhando na internet, achei num blog uma técnica de visualização que achei interessante e fácil. A recomendação era: uma vez por dia, deitada, fechar os olhos e se imaginar num lugar que dá tranquilidade. Mas tinha um detalhe. Tinha que imaginar com bastante detalhe e tentar sentir no corpo como se você realmente estivesse lá.

Eu imaginei que estava numa praia tropical. Só eu. Era um dia quente e ensolarado. Eu imaginava tocando a areia bem fininha, branquinha e morna. Imaginava eu pisando naquela areia, pegando um punhado da areia e ela escorrendo entre os dedos. Me imaginei deitando nela e virando “Cristiane à milanesa”. Eu sentia o cheiro do mar – parecia até que eu estava na praia de Santos. Dava até para sentir o cheiro daquele protetor solar, o Coppertone. Eu via o céu bem azul, uma gaivota voando. Eu escutava o barulho das ondas quebrando, e via aquele mar de água clarinha. Tudo em muito detalhe.

Fiz isso por vários dias. Quando percebi que eu me sentia melhor depois desse exercício de visualização, teve dias que fiz duas vezes por dia. De manhã ao acordar e antes de ir dormir.

Então chegou o dia que eu achava que estava pronta para o próximo passo: tomar ar fresco. Nesse dia eu me forcei a fazer uma caminhada num jardim aqui perto. O meu objetivo era tomar ar fresco e ver um pouco de verde – dizem que caminhar entre árvores faz muito bem e nesse dia eu entendi que isso é verdade. Meu maior desafio nesse dia foi me forçar a colocar uma roupa, escovar os dentes e abrir a porta da casa. Parecia que meu corpo tentava fazer de tudo para ficar em casa. Mas eu me forcei a sair e aqueles 15 minutos de caminhada me fizeram bem. Vendo os passarinhos e um esquilo doido que pulou na minha frente me fez pensar que nunca estamos realmente sozinhos.

Depois dessa caminhada, eu decidi que na semana seguinte eu tentaria fazer outra caminhada dessas. E foi o que eu fiz. Num dia de sol eu me forcei a colocar um tênis, música no ouvido, e fui repetir a minha caminhada, mas dessa vez com mais velocidade, para fazer o pulso subir. Todo mundo diz que fazer exercício ajuda a liberar uns hormônios que dão mais ânimo pra gente e eu senti isso. Com o passar dos dias eu tinha mais vontade de colocar o tênis e repetir a minha caminhada. Depois de dois meses eu achei que eu estava me sentindo melhor.

Não estou dizendo que essa é a cura para depressão, mas estou dizendo que essas atividades me ajudaram muito. Outra coisa que me ajudou foi ouvir umas palestras da Louise Hay. Ela falava de como melhorar auto-estima e amor próprio. Eu focava em ouvir a palestra ao invés de deixar meus pensamentos destrutivos tomarem conta de mim. Aquelas palestras foram praticamente lavagem cerebral, mas me ajudaram a ver o lado positivo das coisas, o lado positivo da vida.

Nesse período negro da minha vida eu também li dois livros que me fizeram ver que eu tinha mais motivos para estar contente do que para estar depressiva.
Minha médica recomendou o livro é do Viktor Frankl, um psiquiatra austríaco judeu que sobreviveu o holocausto em Auschwitz. O título do livro é “O homem em busca de um sentido”. Definitivamente, ler sobre o que ele passou e presenciou, coloca nossos problemas em perspectiva.

Então um amigo que sofreu demais com seu divórcio me recomendou um livro de um monge budista. Eu achava que seria livro de mindfulness, mas não era. Foi um livro muito fácil e gostoso de ler. Eram histórias curtas e cada história faz a gente refletir se estamos cometendo os mesmos erros na nossa vida. Gostei tanto desse livro que dei de presente para 3 pessoas e recomendei para tantas outras. É o livro do Ajahn Brahm: Antes que o dia acabe, seja feliz!

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9 Responses to Cinza

  1. Cabeça Disneyssauro diz:

    Uau !! que coisa não (kiko do chaves)
    Acho que nunca tive depressão, já passei por tempo sombrios, mas depressão, que me lembre nunca., faz um bom tempo que não sei o que é ler, não consigo, até o livro me prender e fazer querer ler mais e mais, (no começo) sempre me dá sono, não consigo ler uma página que já durmo. hehehehe

    Mas segue em frente, mais caminhada no jardim

    • Cristiane diz:

      Fiquei curiosa. O que acontece num tempo sombrio? São pensamentos ou ações?

      Meu, você anda lendo o tipo errado de livro. Que tipo de livro vc gosta? Crime? Eventura?

      • Cabeça Disneyssauro diz:

        gosto de suspense, crime, drama, etc. Acho que nunca li um livro de aventura (que me lembre não).
        O que me mata é o começo dos livros, não me prende, o começo é sempre chato, até chegar na parte bacana demora, kkkkk. (linha bastante livros, tinha coleção da Agatha Christie.

        • Cris diz:

          Nunca leu livro de aventura? Harry Potter ou O senhor dos anéis? Os livros do Clive Cussler são aventura, não?

        • Cris diz:

          Andei pensando nessa tua frase, que o começo dos livros são chatos e não prendem a atenção. Eu estou sentindo isso com filmes. Comecei vários filmes e parei no meio pq não me prenderam a atenção. E olha que eu adoro assistir a filmes!

          • Cabeça Disneyssauro diz:

            kkkk, é fogo, mas acontece com filmes também, tem um filme acho que é espanhol (não sei) se chama um contratempo, ohh filme chato, mas o final é muito legal, hehehe

  2. Gabriela Sakuno diz:

    Te acho tão forte! Quero ser assim…

    Mesmo aqui em Portugal, com muito mais Sol que na Dinamarca eu ainda tô sentindo uma tristezinha neste início de 2021.

    Fiquei 2 semanas no Brasil depois de 2 anos longe, voltei pra Lisboa no maior frio, com uma baita diarréia (não é covid, acho), com a notícia de que meu contrato no trabalho não irá renovar depois de Fevereiro, e enfim, aquela sensação geral de que tá tudo dando errado.

    Vou meditar, boa idéia, isso realmente sempre ajuda.

    Na falta de Sol, vamos meditar!

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