Hoje minha energia mudou. Alguma coisa aconteceu e finalmente voltou a dar tudo certo. Bom, não sei se dizer “dar tudo certo” é o mais correto, porque muita coisa deu errado hoje, mas nem isso tirou minha alegria.
Começou quando eu fui tentar pegar o ônibus de Megalochori para Thira (a capital de Santorini), mas primeiro eu não encontrava o ponto, segundo, quando o ônibus passou, ele não parou pra mim.
Lembrei então de que me disseram que Santorini seria um bom lugar para pedir carona. Coloquei o dedão para cima (nunca tinha feito dessas coisas antes! é uma sensação muito estranha), mas descobri que eu não tenho saco para ficar um tempão de pé esperando alguém ter coragem de pegar um caroneiro. Resolvi que ia andando os 5 km. Mas eis que uns 300 metros à frente, eu vejo um cara entrando num furgão, só ele, e eu perguntei se ele estava indo para Thira. Ele disse que sim. Eu perguntei se ele podia me dar uma carona. Meio de mau jeito ele disse que sim. Então eu fui. E de quebra ele ainda foi me explicando coisas do local.

Calhou que assim que subi as ruas de Thira (ou Fira, tem gente que fala Fira), eu vi as placas para o porto antigo, que é de onde saem as barcas que vão para o vulcão. Resolvi descer os 600 degraus escorregadios e cheios de bosta de burro (ou jumento).
Eu poderia ter descido nas costas de um burro, mas eu sou contra maltratos aos animais, e achei um absurdo deixar os bichinhos sem água, o dia todo debaixo de sol quente, carregando turista para cima e pra baixo. Há também bondinho por 6 euros, mas eu achei que descer as escadas seria um bom exercício e uma boa maneira de aproveitar a vista.
Cheguei no porto bem na hora que o barco atracou. Fiz um passeio supimpa (ainda existe essa gíria?). Foram 90 minutos de caminhada pela cratera, observando os depósitos de rocha vulcânica de diversas erupções. Dei graças por ter comigo minhas botas de fazer trilha, pois vi um povo lá de chinelo de dedo sofrendo para subir o morro de pedras.
No final do passeio, o barco parou para que fizéssemos um pulo na água e nadando podíamos ir numa parte onde a água era marrom, meio sulfurosa, mas bem quentinha. A quentura vinha do magma abaixo, do vulcão dormente.
Terminado esse passeio, voltei a subir os 600 degraus, mas dessa vez foi tortura. Debaixo de sol escaldante, muito cansativo, e mal dava para respirar, porque havia tanto excremento de burro, que o fedor sufocava a gente. Foi horrível. Mas sobrevivi.
Continuando o passeio, dei de cara com um lugar vendendo açaí. Nossa, que açaí gostoso. Acho que o melhor que comi até agora. Muito bem feito e o pessoal, quando souberam que eu sou brasileira, queriam bater papo, saber como se come açaí no Brasil.
Falando em Brasil, encontrei muito brasileiro em Thira. Tanto meninas novinhas, em torno de uns 20 anos, quanto o pessoal grisalho.
De lá fui caminhando calmamente até chegar Imerovigli. É um vilarejo bonitinho, onde o povo vai para ver o pôr do sol. Eu resolvi não ficar para ver o crepúsculo. Esse eu posso ver da varanda do quartinho que estou alugando.

Parei num restaurante que me chamou a atenção e para minha surpresa, comi um peixe divino. Era isso que eu estava com vontade de comer desde que cheguei aqui 14 dias atrás. Finalmente!! Foi a melhor refeição da viagem, acompanhada por bom atendimento, um bom vinho, bossa nova na caixa de som, e uma vista fenomenal.
Antes do sol se pôr, comecei a procurar pelo terminal de ônibus, pois eu queria pegar transporte público para voltar para casa. Cheguei no terminal 18:02, à tempo de ver todos os ônibus indo embora. Puxa vida.
Fui olhar a tabela de horários e vi que o próximo ônibus para Megalochori, ao invés de às 19h, seria somente 19:30. Achei que seria tempo demais esperando. Resolvi então voltar pra casa caminhando.

Foram pouco mais de 5 km, caminhando pela beira da estrada, porque não há trilha. Foi um pouco cansativo, porque a estrada não tinha acostamento, e alguns carros tiravam uma fina, mas sobrevivi. Vim caminhando calmamente, com o pôr do sol ao meu lado.
Assim que entrei no apartamento, aquele sol grande vermelho mergulhou no mar. Foi perfeito.
Agora sim, hoje eu vou dormir contente. As experiências de hoje salvaram a viagem.