Eu comentei em dezembro que minha antiga colega do serviço foi passar férias na Austrália e Nova Zelândia e voltou de lá com um tumor no cérebro.
Aquele dia em que ela caiu, quebrou o nariz e teve que fazer uma tomografia… tenho certeza de que ela não achou que aquele foi um dia de sorte. A verdade é que aquela queda salvou a vida dela.
Como é um tumor benigno que cresce devagar, os médicos neozelandezes deixaram Helle ir pra casa para ser examinada melhor quando chegasse na Dinamarca.
No dia que eu estava na ilha Gran Canaria, Helle foi ao médico porém naquele dia a única coisa que marcaram foi uma ressonância magnética.
Lembro que pensei que demoraria para conseguir esse exame, pois quando eu precisei de ressonância por causa da endometriose, demorou um tempão. Foi diferente com Helle. Não sei se quando se trata de tumor ou câncer o exame sai mais rápido.
Duas semanas mais tarde ela já tinha feito o exame e ficaram pasmos de ver que o tumor tinha crescido mais meio centímetro em tão pouco tempo e estava pressionando uma veia importante entre os dois hemisférios do cérebro e se infiltrando no crânio.
Quando o resultado do exame saiu, queriam internar Helle no mesmo dia para aguardar a cirurgia no hospital. Eles diziam que havia muito risco dela começar a ter episódios epileticos por causa do tumor. Mas Helle pediu para esperar pela cirurgia em casa. O médico concordou mas disse que se ela tivesse algum ataque, que teria que correr para o hospital.
Dez dias atrás eu e Helle nos falamos por quase duas horas no telefone. Ela me contou que estava precavida e tinha preparado uma malinha, por via das dúvidas, caso precisasse correr para o hospital. Dois dias depois Helle me escreve para dizer que a cirurgia tinha sido marcada para primeiro de fevereiro (hoje).
Ontem, 31 de janeiro, de noite eu pensei muito em Helle. E não sei porque eu achava que a cirurgia seria na sexta ao invés de hoje, quinta. Eu disse pra mim mesma: amanhã tenho que lembrar de escrever pra Helle para desejar boa sorte.
Hoje, quinta 1 de fevereiro, de manhã eu estava pronta para escrever, então vejo que me enganei com a data e que naquele horário Helle provavelmente já estava sendo operada. Putz. Que mancada. Como pude me enganar assim com a data?
Decidi então que esperaria até de noite para escrever para o namorado dela, e perguntar como tudo se passou.
Nos últimos dois anos eu assisti a uns trocentos episódios de Grey’s Anatomy, e se tem algo que dá para aprender com esses seriados, é que cirurgia no cérebro, além de perigosa, pode demorar horas e horas e horas.
Tive um dia bem ocupado no trabalho, mas pensei muito em Helle. Eu estava genuinamente preocupada. Toda cirurgia tem seus riscos. Eu perdi Simone 4 anos atrás. Não vou aguentar se mais uma das minhas amigas morrer.
Nove anos atrás, quando eu comecei a trabalhar na Lundbeck, muito rapidamente eu percebi que iria detestar o trabalho. E foi dito e feito. Em poucas semanas eu já não aguentava o tédio daquelas tarefas. Mas eu decidi ficar na Lundbeck por causa da colega, Helle. Eu já tinha trabalhado com colegas bacanas no passado, mas Helle era fora do comum por causa de sua positividade (sem ser uma positividade tóxica) e sua maneira de tratar todos com muito carinho mesmo nos dias em que o bicho estava pegando.
Eu achava Helle uma pessoa fantástica, ser humano com H maiusculo, e eu achava que a companhia dela me faria bem, pois eu estava vindo de um trabalho onde tinham me tratado muito mal por muito tempo. Eu precisava daquele carinho e positividade, e eu dizia pra mim mesma que valia a pena aguentar aquele trabalho entediante só para estar perto dela. Por causa de Helle eu aguentei ficar naquele trabalho por 8 anos.
Quando eu finalmente decidi procurar novo emprego, Helle estava afastada do serviço por causa de estresse. Bom, naquela época, quase um ano atrás, a gente achava que era estresse, mas poucos dias atrás o médico disse que provavelmente não era estresse coisa nenhuma. Era provável que todos aqueles sintomas estavam sendo causados pelo tumor no cérebro.
Helle obviamente nunca melhorou do “estresse” e seis meses atrás acabou fazendo um acordo com a Lundbeck para ser despedida mas receber todos os benefícios de um funcionário que trabalhou na empresa por 25 anos.
Uma história longa para entender o quanto Helle é importante na minha vida e o tipo de conexão que tenho com ela.
Momentos atrás eu escrevi para Christian, o namorado. Ele disse que correu tudo bem, que Helle está lúcida e que vai ficar uma cicatriz enorme na cabeça (que eles acham que o cabelo depois vai cobrir). Então ele escreve que Helle não consegue nem sentir nem mover a perna esquerda.
Foi aí que todos aqueles episódios dos seriados vieram na minha cabeça e bateu uma preocupação enorme.
Segundo os médicos, dizem que é comum isso acontecer pós cirurgia e que eles esperam que vai normalizar em um ou dois dias.
Helle vai ficar internada no Rigshospital em Copenhague até segunda e depois não sei se ela vai ser movida para um hospital perto da cidade onde ela mora ou se vai poder voltar para casa.
No telefone duas semanas atrás, Helle me disse que não queria receber visita no hospital. Eu vou a Copenhague amanhã e eu poderia passar pelo Rigshospital para dar um alô, mas acho que vou respeitar o desejo dela.
Segunda-feira eu escrevo direto para ela para saber como ela está se sentindo e qual o prognóstico.
Se fosse eu, numa cama de hospital sem poder mover a perna esquerda, acho que estaria com bastante medo. Mas estamos falando de Helle. Ela tem essa positividade mesmo nas situações mais adversas. É isso que admiro tanto nela.
Helle vai me matar, mas roubei uma foto dela na Nova Zelândia depois do acidente. Eu admiro que ela consegue sorrir e estar tão radiante mesmo depois de receber um diagnóstico tão perturbador. Eu não sei se conseguiria o mesmo. É por isso que eu sou fã número um dela e estou torcendo muito pela sua melhora!
Que lindo!
Linda conexão!
Linda a Helle, também! De todas as maneiras!
Mande um abraço para ela, só de te fazer bem, já gosto dela!
E boas energias p/ recuperação!! 🙂
Obrigada! ❤️