Despedidas

Não me lembro se eu comentei que minha boa amiga Fernanda, que mora em Aarhus, do outro lado da Dinamarca, resolveu ir embora de volta para o Brasil depois de ter morado 21 anos na DK.

Eu a conheço desde 2016, quando ela veio para o festival do Forró Copenhague. Naquela época eu estava junto na organização do evento e eu e Fernanda trocamos vários emails, pois ela tinha algumas perguntas de como comprar o ingresso e tal.

Eu lembro de quando ela chegou na primeira festa. Sorrisão. Ela falou assim: você que é a Cris? Ficamos amigas imediatamente. E ela tem a maior energia e cara de alguém que está nos seus vinte e poucos anos de idade. Ela quase me matou de susto quando me disse que tem praticamente a minha idade. Não parece nem num pouco.

Nos damos muito bem, somos do mesmo signo, mas somos muito diferentes em vários aspectos. Conversamos sobre tudo e viajamos muito juntas para um bocado de festivais. Até pra festival de kizomba ela me levou.

No início de 2018 ela estava considerando ir embora da Dinamarca. Na época ela estava desempregada havia 2 anos, estava bem difícil achar emprego. Mas o que estava estressando era que o auxílio desemprego ia acabar em breve. Aí ficaria difícil sobreviver.

Lembro que eu fiquei tão triste quando ela me falou que ia embora em 2018. Aí viajamos juntas para Londres para o festival de forró lá. Seria nossa despedida.

Mas olha como coisas inesperadas acontecem nessa vida da gente. Durante o festival ela se encantou com um brazuca dez anos mais novo que ela. Eles acabaram virando namorados. Na volta daquela viagem, quando ela chegou no aeroporto, zuando, ela disse para o pessoal do aeroporto: ei, escuta aqui, vocês não têm um emprego pra mim aí?

Doida. Mas funcionou. Em menos de um mês ela foi oferecida dois empregos no aeroporto. Um no controle de segurança e outro fazendo check-in dos passageiros e controle do balanço dos aviões. Ela acabou aceitando a segunda opção, pois seria mais interessante. E foi.

De fato, foi tão interessante, que ela chegou a fazer o embarque da princesa Mary (que agora é a nossa rainha), e também do ator Johnny Depp, que veio fazer um show de rock na Dinamarca. Eu fui no show desse homem e o vi no palco, mas minha amiga fez todo o embarque dele e ficou de papo com ele por pelo menos uns 15 minutos até seu embarque. Eu lembro desse dia. Ela me telefonou e disse assim: adivinha quem eu vi no aeroporto hoje e fiz o embarque. Eu, que adoro esse tipo de adivinhação, pedi duas dicas e acertei na terceira tentativa! Eu tenho a foto que ela tirou com o Johnny, mas essa eu não posso publicar, ou minha amiga vai me matar. Ela sempre compartilha um monte de coisas na mídia, mas ela nunca compartilhou essa foto. Então imagino que seja um segredo que poucos sabem.

Em 2018, quando Fernanda acabou ficando na Dinamarca por causa do emprego novo e do novo namorado, eu fiquei aliviada. Achava que continuaríamos em contato. Ledo engano. Nos falamos muito pouco nos três anos que ela estava com aquele namorado. Nos vimos somente uma vez naqueles três anos, e foi só porque aquele namorado era DJ de forró, ele ia tocar num evento na cidade, e eles precisavam de um lugar para dormir em Copenhague. Ficaram lá em casa. E eu nem pude dar muita atenção, porque era período de provas e eu estava fazendo o meu mestrado. Foi aquele ano que eu tinha reprovado e tinha que refazer a prova.

Aquele emprego dela no aeroporto consumia todas as energias e nem pagava bem. Ela mal conseguia o suficiente para pagar as contas. E aqueles horários. Ela tinha que sair de madrugada para fazer embarque de passageiros 4 da manhã. Outras vezes trabalhava até tarde da noite, pra lá de meia noite, porque se um voo atrasa, tem que ficar lá esperando. Ela nunca tinha tempo para nada, e quando tinha, ela dava prioridade falar com o namorado. Claro. Isso eu entendo. E ele morava em Londres, então ela viajava pra lá sempre e nunca mais viajamos juntas.

Confesso, eu tinha ficado mega chateada de ter perdido o contato com ela. Cheguei a pensar que teria sido melhor se ela tivesse ido embora de vez. Tenho certeza de que se ela tivesse ido embora, a gente teria mantido mais contato.

Mas nada dura pra sempre. O namoro deles acabou três anos mais tarde de uma maneira até desrespeitosa. Foi no dia do aniversário dela. Não entendo como os caras conseguem ser tão desonestos e sem consideração. Minha amiga chorava o tempo todo. Eu fui a Aarhus duas vezes naquele mês ver se dava uma animada pra ela.

Demorou pra passar a tristesa. Mas tudo passa nessa vida.

A gente voltou a conversar e até a viajar juntas para forró. Se você vasculhar o blog, vai ver que fomos ano passado para Hamburgo juntas, depois Berlim. Esse ano fomos juntas pro forró na Itália, depois Berlim. Aí ela solta outra bomba.

Ela cansou da Dinamarca e estava pensando em ir embora. Dessa vez eu não fiquei triste. Dessa vez eu entendo os motivos de querer ir embora. Eu sei o quanto a gente se sente solitária nessa país, que é difícil fazer amizade, e o clima não ajuda. Então comecei a incentivar.

Minha amiga já deu aviso prévio para entregar o apartamento, para sair do trabalho, já mandou cancelar um monte de coisas, já começou a vender um monte de tralha, porque não vai poder levar tudo. E já comprou a passagem pra ir embora em meados de Novembro. Agora vai.

Para a nossa despedida, ela perguntou se eu queria ir para Nice, na França, para passar o meu aniversário lá. Teria um festival de forró na cidade.

Eu conheço Nice e conheço aquele festival. Adorei Nice e as cidadezinhas ali vizinhas quando fui em 2019, mas eu achava que já tinha visto tudo que a cidade tinha pra oferecer e não tinha motivo para voltar lá. E o forró em Nice em 2019 não foi bom pra mim. Quase ninguém queria dançar comigo. Fiquei muito encostada na parede. Então eu não sabia se valeria a pena ir pra Nice esse ano.

Acabei que aceitei e levei isso como uma oportunidade para me despedir da minha amiga. Compartilhamos hotel. Mas eu tinha zero expectativas para essa viagem.

Olha. Foi a melhor viagem desse ano. Me diverti demais, ri demais, fiz amizades. Encontrei gente que se lembra de ter dançado comigo em Praga em 2018, encontrei gente que eu não via desde antes da pandemia. Fernanda organizou uma festinha surpresa para mim num restaurante brasileiro. Apareceram 8 pessoas para comemorar conosco e ainda pagaram a minha conta, que foi bem cara. Eu gastei 40 euros. E o forró foi ótimo. Dancei muito. Mas muito. Tiramos um monte de fotos. Depois eu publico algumas.

Então foi uma ótima despedida.

Mas ficou faltando uma saideira, pelo visto. Um dia antes de ir embora de Nice, Fernanda diz que precisa de ajuda para terminar de tomar umas biritas que ela tem no armário em Aarhus. Ela convidou uns pinguços (e aparentemente a tia Cris está nessa lista) para ajudar a beber tudo durante o fim de semana. A idéia é tomar todas, fazer uma comidinha juntos, e empacotar umas coisas. No entanto, não necessariamente nessa ordem.

Beleza. Estou pronta e semana que vem estarei lá.

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