Eu não comentei no blog antes, mas no final de 2022, quando eu recebi as notas do meu mestrado, no dia seguinte a diretora do curso me escreveu.
Minhas notas foram muito boas, e eu estava orgulhosa de mim mesma, mas eu nunca imaginei que a diretora do curso escreveria um email.
Ela começou o email me parabenizando por ter terminado os mestrado com grandes honras. Aqui no estrangeiro tem esse sistema de honrarias, o tal de cum laude, e eu recebi as honras mais altas. Não sei se no Brasil existe esse sistema de honrarias. Quando me formei na PUC, não tinha nada dessas frescuras. Mas pros lados de cá tem e se você se formou com honras, isso vem escrito no diploma. Como eu me esforcei e me sacrifiquei pra caramba para pagar e completar o curso, eu fiquei lisonjeada com aquela mensagem da diretora.
Mas aquele email não acabou depois da parabenização. Ela me perguntou se eu teria interesse em ser contratada pela universidade e trabalhar como tutora.
Acho que o meu queixo caiu quando li aquilo.
Desde pequena eu tinha vontade de ser professora. E o que ela estava me oferecendo não era qualquer cargo de professora, era um cargo de tutora universitária de nível de mestrado. Eu achava que eu deveria aceitar, só para ver como é, se eu ia gostar. Eu certamente jamais teria outra oportunidade dessas.
Mas o detalhe: eu não iria trocar o meu emprego por esse. Esse trabalho na Universidade de Londres não é período integral e nem paga tão bem. É algo que eu faço de vez em quando, somente naqueles meses quando os alunos entregam as provas e trabalhos escritos. Então, desde que fui contratada, em certos meses do ano eu tenho dois empregos e quase nenhum momento de folga pra minha cabeça. O mês mais ocupado é o mês de maio.
O prazo para os alunos entregar os trabalhos escritos é sempre 12 de maio. Então, desde esse dia que eu trabalho de dia na empresa, e de noite e fins de semana eu trabalho para a universidade.
Uso muito do meu tempo para a universidade, pois cada trabalho escrito tem em torno de 40 páginas ou 8 mil palavras. Eu não consigo ler rápido. Demoro horrores lendo e fazendo anotações. Pra piorar, além de corrigir, a gente tem que escrever um feedback detalhado do que o aluno fez bem e o que tem que melhorar. Talvez os outros tutores com mais experiência sejam rápidos escrevendo feedback, mas eu uso umas 3 horas escrevendo cada um. Eu uso mais tempo corrigindo prova e escrevendo feedback do que a quantidade de horas que a universidade me paga por prova. Enfim.
Eu não aceitei esse trabalho por causa da grana. Eu achava que esse trabalho me proporcionaria uma oportunidade de manter meu conhecimento e aprender mais. No entanto eu não acho que estou aprendendo grandes coisas, pois há muito pouca interação entre os tutores.
Cheguei a pensar em pedir demissão, porque esse ano estava muito difícil conciliar os dois empregos e achar tempo e energia para corrigir prova de aluno. Comentei isso com aquele meu amigo que estava internado no hospital. Ele dava aula na Universidade de Copenhague, então ele entende do que eu estava falando. Eu comentei do meu cansaço e dos desafios em ser tutora, mas ele me disse que quando eu falava nesse assunto que tinha um certo brilho no meu olhar.
Talvez eu esteja me sentindo esgotada e com vontade de chutar o pau da barraca por causa de tudo de ruim que tem acontecido nesse ano.
Eu voltei de Singapura com um baita jetlag que durou 2 meses. Me mudei e arrastei móveis por 3 semanas sem pausa, o que me deu um problema no ombro. Depois em março começaram os problemas de mau cheiro no apartamento e continuam até hoje. Meu estômago vive embrulhado. Daí recebo a notícia de que meu amigo está no hospital com câncer terminal. Semana passada a advogada dele me telefonou para me informar que ele morreu. Eu nunca pensei que eu receberia a notícia da morte dele dessa maneira. E pra piorar, meu ombro voltou a doer e está me preocupando. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e tirando a minha energia.
Nesse fim de semana eu usei 10 horas escrevendo feedback para aluno. Confesso que usei mais tempo do que deveria, pois fui extra cuidadosa. Um dos alunos foi tão mal que eu acho que ele vai reprovar. Não é fácil corrigir uma prova assim.
Ainda tenho mais duas provas para corrigir. Vai ficar pra quinta, que é feriado, ou para o próximo fim de semana. E depois disso vou reavaliar se devo continuar como tutora. Talvez ano que vem eu possa me comprometer com menos coisas. Esse ano, ao todo, eu corrigi 13 provas e escrevi 8 feedbacks de 2000 palavras cada. É coisa demais, né?