Grã Canária – 7 dias

Sete dias de sol, mar, boa comida e um calorzinho que me ajudou a recarregar de energia.

Fiquei num hotel só para adultos e peguei meia pensão, assim não precisava me preocupar onde ir para jantar.

Comparado com outros lugares onde fiquei hospedada nas ilhas Canárias, a comida nesse hotel estava bem boa. Eles serviram tantas frutas tropicais. Matei a saudade de comer mamão. No café da manhã tinha Romeu e Julieta. Eu achava que isso era coisa que só se come no Brasil.

Dia 1 – 24 de dezembro

Cinco horas e meia de voo num avião sem entretenimento. O que me salvou foi que baixei a minissérie “Corpos” (Bodies) no Netflix. Muito interessante essa minissérie e ajudou a passar o tempo.

Chegada. A van que tomei no aeroporto me deixou na frente do hotel e na entrada do elevador estava um grupo de suecos. Não tinha lugar para todos no elevador e um velhinho ficou pra trás. Eu e ele conversamos um pouco até que a recepcionista o chamou para fazer check-in.

Me deram um quarto bem bacana, com sacada onde tem sol de tarde e protegido do vento, e com vista parcial do mar. Meu quarto era igualzinho a foto que o hotel publicou na internet. Raramente é assim, mas esse foi. Achei tão bom meu quarto que não quis nem sair para explorar a área no primeiro dia. Fiquei na sacada curtindo o sol até dar o horário do jantar, que achei seria a ceia de natal, mas me enganei.

Durante o jantar, o velhinho veio se sentar comigo e me fez companhia, mas a comunicação era difícil já que não falamos um idioma em comum. O inglês dele era muito ruim. Então ele falava sueco e eu respondia em dinamarquês.

Dia 2

Durante o café da manhã o velhinho sueco me achou e veio se sentar comigo. Me contou que quando era jovem morou na Rússia por 2 anos. Ele é bem simpático e contava umas histórias interessantes, porém para mim, era muito esforço mental tentar entender sueco. Eu queria descansar a mente. Depois desse dia eu tentava ir ao restaurante em horários onde eu achava que não ia dar de cara com o velhinho.

Meu hotel ficava no fim da praia de San Agustín onde é um beco sem saída por causa das rochas e o mar. A única opção de caminhada era para o oeste em direção a Maspalomas, onde tem um deserto.

De manhã não tinha vento. A ventania mesmo só começa pelas 11 da manhã (o que me lembrou a Grécia – em Kalatama era assim). Caminhei os 5 km até Maspalomas, passando por várias praias no meio do caminho, inclusive uma praia abarrotada de gente. Chama Playa del Inglés. Parecia Matinhos ou Praia de Leste em dia de feriado.

Quando cheguei no começo do deserto, desisti de caminhar nele. Estava muito vento jogando areia nos olhos da gente. Descansei as pernas um pouco num centrinho comercial antes de caminhar os 5 km de volta.

Achei intrigante que numa lojinha onde comprei um vestidinho de saída de banho também vendia roupas eróticas gay. Achava que não tinha nada a ver. Ser fosse um sex shop, aí sim, mas roupa erótica misturada com saída de banho?

De noite, minha mesa estava reservada para as 18h. Coloquei a mesma roupa da noite anterior. A ceia do Natal no hotel foi impressionante. A decoração que eles fizeram deve ter tomado o dia todo. Estava lindo e tinha um cara tocando violino. Me arrependi de não ter tirado mais fotos.

Dia 3

Saí decidida que faria a trilha naquele deserto. Mas antes, resolvi seguir a recomendação de um amigo e fui ao jardim botânico em Maspalomas. Para economizar as pernas, fui de ônibus.

Jardim botânico simpático e gratuito. De lá fui caminhando até a praia onde começa a trilha. Passei por uns miradouros e vi uma área que parecia um oásis. Era um campo de golfe. Fiquei imaginando o quanto de água usam para manter aquela área verde no meio de um deserto.

Finalmente, na beira mar, abri o aplicativo AllTrails para me guiar, pois o acho bastante informativo.

No entanto, o que o aplicativo não disse (e nenhum usuário comentou) que tem muita pedra na areia nos primeiros quilômetros. Eu gosto muito de caminhar descalça na praia, principalmente quando tem areia fininha. Eu não estava esperando tanta pedra. Tive que colocar a bota para andar os primeiros 2 quilômetros.

Outra coisa que ninguém comentou é que tem um bar gay nudista na praia em Maspalomas e ele é bem movimentado. Tinha muito homem pelado ali na beira da praia. Nunca tinha visto tanto bilau solto antes. Tinha até um velhinho peladinho dançando a macarena na beira da praia. E isso no meio das centenas de turistas e crianças que estavam caminhando por ali.

Achei que no meio das dunas não teria perigo de ver nudista, mas me enganei. Tinha gente fazendo caminhada nu. Eu não estava preparada para isso. Agora entendi aquela lojinha vendendo artigos eróticos gay. Muita clientela!

Dia 4

Andar descalço nas dunas requer esforço. No dia seguinte as batatas da perna estavam reclamando. Resolvi não fazer quase nada nesse dia. Marquei a massagem com a tailandesa e só.

Dia 5

Depois do café peguei um ônibus que me levou até no nordeste da ilha para visitar a capital, Las Palmas. 45 minutinhos até lá.

Na minha mente, no entanto, estava minha ex-colega de trabalho, Helle, a quem quero bem. Ela acabou de voltar de viagem. Passou um mês e meio na Austrália e Nova Zelândia. Eu estava acompanhando as fotos dela no Facebook. De repente vejo uma foto onde ela está com o nariz quebrado e rosto todo roxo. Levou um tombo numa trilha. No hospital eles fizeram uma tomografia e por acaso descobriram que Helle tem um tumor no cérebro.

Imagina que você sai de férias e volta pra casa com um tumor no cérebro? Eu estava com isso na mente pois eu sabia que hoje era o dia que Helle iria ao médico para saber seu prognóstico.

Mas voltando ao passeio. Achei Las Palmas de Gran Canaria muito bonitinha. A arquitetura de alguma maneira me lembrou Paranaguá, ali no centro histórico e rua da praia e casa dos jesuítas (se nossa cidade fosse bem preservada, claro). Aparentemente a arquitetura portuguesa e espanhola do séculos XV – XVII são bem parecidas. Então muita coisa em Las Palmas me fez lembrar Brasil, principalmente o mercado do peixe e frutas deles. Muito parecido com o de Paranaguá.

Então passei na frente de uma placa que dizia: Casa Museu de Colón.

Fiquei pensando, colon, como a parte final do intestino antes do ânus? Um museu para isso? Resolvi pesquisar no Google. Colón é o nome espanhol do Cristóvão Colombo. Sabe, aquele infeliz que descobriu a América e acabou com nossos índios.

Aquele museu era a casa do governador e Colombo ficava lá antes das suas viagens para explorar o novo continente.

Na verdade gostei dos painéis e das explicações nesse museu. Tinha desenhos das rotas que fizeram, da direção dos ventos alísios, maquetes da ilha no ano de 1500, e o mais legal eu achei no jardim no centro da casa. Havia duas araras passeando livremente. Passei um tempo ali com elas, até que uma começou a dar chilique e gritar feito doida. No subterrâneo havia alguns objetos do período pré-colombiano e umas fotos dos nossos índios Yanomami. Tive que sair meio que correndo lá de baixo. Estava difícil de respirar lá. Talvez algo no ar daquele ambiente úmido.

Depois dei uma explorada básica. Queria entrar na catedral, mas tinha que pagar 6 euros. Eu não pago. A “casa de Deus” deve estar aberta para todos. Eu entendo cobrar para subir até as torres da igreja e ver o museu, mas cobrar para entrar e fazer uma prece? Só era gratuito nos horários de missa.

Em seguida passei pelo centrinho onde há a rua de pedestres e lojas, caminhei por algumas praias e vim embora. Queria escrever para Helle para saber como tinha sido no médico.

No jantar desse dia vi que o velhinho sueco tinha achado alguns conterrâneos e grudou neles o resto da viagem. Eles conversavam tão alto que dava pra escutar do outro lado do restaurante.

Dia 6

Meu plano era ficar só na preguicinha, curtindo o sol na área da piscina do hotel (que eu praticamente nem usei) ou da praia ali na frente. Enquanto isso, o velhinho de altos papos com os outros suecos no outro lado da piscina. Gente, como eles falam alto. Para escapar do barulho fui fazer uma curta caminhada mas acabei andando os 5 km até a praia do inglês. Foi uma caminhada muito gostosa, umas cinco da tarde, sol se pondo. Eu poderia ter andado mais, mas a bexiga estava dizendo que tenho que achar um banheiro agora e os banheiros públicos já estavam todos fechados. Tive que pegar um táxi de volta para o hotel, só porque eu tinha que ir ao banheiro!

Depois do jantar resolvi sentar no bar e pedi um digestivo. De repente escuto um cara falando sueco do meu lado e perguntei se ele era irmão do velhinho (eu sabia que o irmão dele estava num hotel não muito longe do nosso), mas o cara se ofendeu com minha pergunta e eu fiquei sem entender. Não deu dois segundos, escuto o velhinho atrás de mim me chamando de “Cristina” e ele vem bater um papo comigo. Me contou que tem 11 netos e enquanto procurava uma foto no celular, vejo passar uma foto dele todo operado no abdome e ele comentou casualmente que era câncer de próstata. Vi a data daquela foto. Setembro 2023.

Esse velhinho sempre falava uma palavra (eu entendia “tampis”) e dizia que essa tampis era mais ou menos da minha idade e ele fazia um carinho na minha bochecha sempre que falava isso. Eu suspeitava que tampis queria dizer namorada, mas depois descobri que queria dizer filha. Então ele estava me tratando como filha.

Quando eles foram fumar um cigarro lá fora, a esposa do cara ofendido conversou um pouco comigo e disse que o irmão do velhinho não tem a mesma disposição e parecia alguém que estava na beira da morte. Foi aí que entendi tudo: a razão pela qual o sueco se sentiu ofendido e porque o velhinho tinha tanta energia e queria estar o tempo todo rodeado de pessoas. Ele tinha acabado de sobreviver câncer e estava simplesmente contente em viver.

Dia 7

Dúvida cruel. O que fazer no meu último dia? Pego um ônibus até Maspalomas e vou visitar o parque Tony Gallardo e depois caminhar na praia? Acabei que fiquei enrolando na sacada até que bateu uma fome no fim da tarde e resolvi que iria ao supermercado do outro lado da rua. No entanto, ao invés de atravessar a rua, resolvi caminhar para o leste. Indo pela praia era impossível caminhar naquela direção por causa das rochas e o mar, no entanto pela estrada dava par ir e tinha uma passarela de pedestres.

Eu deveria ter feito esse caminho antes no período de reconhecimento dos arredores. Ali pertinho tem um lugar que vende comida caseira e tudo estava com cara de estar saboroso. Pena que só descobri isso no meu último dia. Continuei subindo o morro e passei por umas cavernas nas rochas e um lugar com coqueiros e eu tive a impressão de estar caminhando por entre abacaxis gigantes.

Depois do jantar coloquei um tênis e queria fazer a caminhada dos 5 km de noite, já que toda a passarela até a praia do inglês tinha iluminação. Fui mas dei meia volta depois do primeiro terço do caminho. Eu não estava me sentindo segura caminhando sozinha por ali de noite. Pena. Foi uma caminhada bem boa, pois nessa noite não tinha vento! E vi um povo doido pulando a cerca para caçar siri e pescar nas rochas. Cada doido!

Dia 8 – 31 de dezembro

A van vinha me buscar 10:50 da manhã (achava que seria uma van, mas foi um ônibus). Cheguei a cogitar se deveria acordar cedo, fazer uma boa caminhada para aproveitar meu último dia de sol, mas acordei já tinha passado das 8 da manhã. Descendo para o restaurante, escuto “bom dia Cristina”. Era o velhinho fumando seu cigarrinho no jardim. Fiquei na dúvida se deveria me despedir, mas eu não ia ali naquela área cheia de fumaça de cigarro.

Depois do café fiz uma caminhada de meia hora e foi o tempo certinho de subir umas escadarias que eu não tinha visto antes e tirar uma foto de um jardim de cactos.

10:40 eu estava no elevador e entra uma loira, olhos azuis, cabelo curto, carregando bagagem. Gente, essas suecas e alemãs têm tudo a mesma cara. Ela me pergunta se estou indo pra casa. Eu disse que sim e só aí reconheci que era a mulher do cara que se sentiu ofendido no outro dia. Eu honestamente não tinha reconhecido até então. O grupo de suecos estavam todos do lado de fora do hotel quando cheguei lá.

Mundo que dá voltas esse. Por uma coincidência do destino, no meu primeiro dia, quando minha van chegou no hotel, a primeira pessoa que vi foi o velhinho sueco. E no meu último dia, quando o ônibus veio me buscar, a última pessoa que vi foi o mesmo velhinho. O ônibus do grupo deles lhes veio buscar no mesmo horário do meu. Os dois ônibus chegaram juntos. Só deu tempo de acenar para o velhinho e escutei a última coisa que ele me disse em sueco: “foi um prazer te encontrar/conhecer”.

Cheguei no aeroporto com 3 horas de antecedência e resolvi ficar do lado de fora tostando no sol por uns 50 minutos para aproveitar o sol até o último momento! Incluo acima um selfie que tirei sentada com minha bagagem na frente do aeroporto.

Foi isso gente. Até a próxima aventura!

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8 Responses to Grã Canária – 7 dias

  1. Seu Madruga diz:

    Voltei, estou na área.
    Caraca, isso sim é férias, uhuuuu, muito legal. gostei bastante de acompanhar essa aventura, muito top, lugar bonito.
    Não entendi uma coisa o velhinho do câncer é o mesmo que fuma?
    Até a próxima aventura.

  2. Manu diz:

    Que lugar gostoso para descansar!

    Eu pensava que as praias de nudismo eram em lugares mais reservados, rs,

    Tia Cris fazendo amizades… descobri que não sou só eu que tento fugir das pessoas, hehhe.

    E sua ex-colega de trabalho, como está?

    Vendo esses lugares a gente percebe o potencial que Paranaguá tem, mas não investem e cuidam da cidade.

    Eu não recebi a notificação da resposta no blog. 🙁

    Beijão!

    • Cristiane diz:

      Verdade, Paranaguá tem tanto potencial. Ano passado saí de lá bem triste ao ver a cidade tão destruída.

      Eu também sempre achei que praia de nudismo fosse em lugares mais reservados. Ouvi falar uma vez que em algumas dessas praias há controle antes de entrar para certificar que todo mundo tira a roupa.

      Maspalomas não é praia de nudista, mas nudismo é permitido. É a mesma coisa aqui na Dinamarca, mas eu não esperava que seria esse o caso numa ilha da Espanha. Eu sempre tenho a impressão que lugares onde a religião católica é prevalente, sempre tem mais controle com “respeito ao pudor”. Quando vi tanta gente pelada, a maioria homens, tomei um susto que você não imagina.

      Obrigada por perguntar de Helle. O hospital marcou uma ressonância magnética e só depois saberemos mais.

      Não recebeu a notificação? Quando você deixou o comentário, você colocou o x na opção “Notifique-me de novos comentários via Email.”?
      Para mim funcionou, mas o email foi parar na caixa de spam (pois parece mesmo uma mensagem spam cheia de hyperlinks rsrsrs).

  3. Manu diz:

    Desejo que a Helle fique bem! 🙂

    Eu olhei no spam, mas como sou cegueta… agora vou ficar mais atenta! hehehehehe

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