Virada

Eu escrevi dois dias atrás que estava precisando de intervenção divina para mudar a energia dessa viagem.

Eu queria fazer o passeio da praia Galdana, mas só tem um ônibus para ir 9:30 da manhã saindo de Mahon e um ônibus para voltar 16:50.

Meu hotel fica na vila Es Castell a 3 km de distância de Mahon. Para chegar em lá a tempo, eu achava que teria que pegar o ônibus das 8:35 e esperar na rodoviária de Mahon por 45 minutos. Isso não me animava e seria bem cansativo.

Tem outro ônibus saindo de Es Castell 9:10 da manhã com previsão de chegar em Mahon 9:20, mas e se atrasar? Três dias atrás o ônibus atrasou mais de 10 minutos. Se isso acontecer, lá se vai a chance de ir pra Galdana. Arriscado demais.

E aquela ventania me desanimando.

Fui dormir desmotivada e decidi deixar o destino me guiar. Desliguei o despertador e coloquei tudo nas mãos do universo.

Santo universo…

Ontem acordei naturalmente 7 da manhã me sentindo revigorada. Tomei banho sem pressa. Tomei meu café da manhã reforçado com calma e fui pro quarto 8:40. Resolvi colocar um biquíni na mochila e calculei que horas sair do hotel para pegar o ônibus das 9:10. Começou a chuviscar bem na hora que sai do hotel mas vi parte de um arco-íris.

Caminhei dez minutinhos debaixo de chuva. Uns pedreiros mexeram comigo. Cheguei no ponto e dava para ver o arco-íris inteiro. Eu adoro observar arco-íris. Vi um no meu último dia na os Alpes franceses e agora um aqui.

Para minha surpresa, o ônibus chegou com 5 minutos de antecedência. D

Até todos os passageiros entrarem e pagarem passagem, demorou um pouquinho, mas o ônibus saiu no horário certinho, 9:10 da manhã. Chegou em Mahon 9:18.

Eu não esperava por essa. Foi perfeito e deu tempo de pegar o busão para Cala Galdana as 9:30.

Uma hora de viagem.

Cheguei em Galdana, que fica no sul da ilha, e lá não tinha vento. Outra bela surpresa. O tempo estava lindo. Maior sol.

Praia de areia branquinha e fininha. Água cristalina. Uns peixinhos nadando na beira da praia. Mas muita gente. Praia abarrotada.

Liguei o AllTrails no celular para me guiar e fui fazer a trilha. 11 km, mas acabei andando 13 km porque desviei duas vezes para ir nuns miradores.

Praia Cala Mitjana

O aplicativo dizia que demora em média 3 horas e 2 minutos para completar essa trilha. Eu fiz a trilha em 4 horas e 45 minutos (sem contar as paradas para descanso – no total eu usei 5 horas e 28 minutos).

Eu queria ter feito mais pausas para descansar as pernas e entrar no mar. Aquela cor verde da água estava me chamando. Como a água estava gelada, quando batia o vento, eu achava que ia morrer de frio. Então fiquei enrolando e deixei para entrar no mar no final da trilha, na última praia, antes de fazer o retorno.

Passei por 5 praias diferentes. Três delas com areia branca e fina. Mas as duas últimas praias não tinham areia. Era só pedra. Não tive coragem de entrar no mar ali porque achava que ia machucar o pé. Aí tive que repensar minha estratégia de banho de mar, e resolvi que ia tomar banho de mar em Trebalúger, que era a terceira praia com areia lá não tinha muita gente.

Cala Escorxada

Porque eu tinha acreditado no AllTrails e achava que seria uma caminhada de somente 3 horas, eu não tinha trazido nada para comer na mochila. Tomei café da manhã 8 horas e só comi novamente as 18 horas durante a pausa para trocar de ônibus em Mahon. Eu vou te contar, depois de caminhar por 5 horas, eu estava com a maior fome! E sede, pois eu levei 1,5L de água e deveria ter levado 2 litros.

Foi muito bom caminhar. Bati papo em francês, em italiano, em inglês e em espanhol. É nessas horas que vale a pena o meu investimento em aprender idiomas. Adoro essas pequenas conversas com o pessoal durante minhas viagens.

Olha, eu passei por uns apertos nessa caminhada. Era muito rochedo e em alguns lugares eu estava completamente sozinha. Eu pensava: vou bem devagar, porque se acontecer algo comigo aqui, ferrou. Não é a toa que levei tantas horas pra completar a trilha.

Naquela praia chamada Trebalúger, eu perdi uns 25 minutos ali na Rocha tanto na ida quanto na volta. Ali tinha que descer da rocha direto na água e caminhar pelo mar por uns 10 metros, porque não tinha outra opção. As  resenhas no AllTrails diziam que muita gente desistiu da caminhada justamente naquele lugar e deram meia-volta. Eu estava prestes a fazer o mesmo, confesso.

Fiquei observando por uns 10 minutos e vendo o nível de dificuldade para descer a rocha. Então vi um casal espanhol descer sem problemas. Me enchi de coragem e fui lá perto ver o que eles tinham feito de diferente. Foi aí que um outro casal espanhol olhou pra mim e disse: a gente te ajuda. Tirei os sapatos, puxei a calça legging pra cima do joelho, pendurei a bota de caminhada na mochila e o cara me segurou para eu descer o último metro até conseguir colocar o pé no chão.

Naquele horário a água dava no joelho, mas sabe a mentalidade de brasileiro, a gente pensa na maré. Perguntei pra eles quando a maré estivesse alta, onde a água bateria no corpo. Com muita tranquilidade eles me explicaram que o mar Mediterraneo não tem maré da mesma forma que os oceanos. Que a altura da água seria a mesma.

Beleza então. E não pensei mais nisso. Descer aquilo foi um Deus nos acuta, só quero ver subir isso na hora de ir embora.

O resto da trilha, andando sobre uns rochedos, parecia que eu estava andando no solo da Lua. Juro. Se não fosse o sol e o mar, eu pensaria num solo cinzento lunar.

Lindas paisagens. No entanto, como eu comentei, as praias daqui pra frente só tinham pedras. Mesmo assim o povo de Kaiak ia até lá ficar tostando no sol e fazer snorquel. Imagino que dá pra ver muito peixinho ali.

Na volta, quando retornei pra Cala Trebalúger onde eu ia tomar banho de mar, as coisas tinham mudado completamente de figura. A praia estava lotada e havia bastante nudista ali. Parei ao lado de um grupo de mulheres peladas e estava prestes a tirar minha roupa e colocar um biquíni. E não é que começo o strip tease e um casal de ingleses com quem puxei papo de manhã vieram conversar comigo? Perdi o rebolado e parei de tirar minha roupa.

Eu lembro que puxei papo com eles numa escalada de pedras. A gente estava sofrendo para subir e eu falei para eles que ali era o começo pra mim, que eu tinha planos de caminhar 10 km. De tarde, eles me reconheceram e perguntaram se eu tinha conseguido caminhar 10K.

Siiim! Eu já tinha caminhado 10.5, mas ainda me faltavam uns 3 km para voltar para Galdana.

Já eram 15:30. O tempo estava passando rápido e o único ônibus saia 16:50.

Eles foram embora, eu troquei de roupa. Coloquei o biquini e uma blusa de neopreno por cima (água gelada, né!). Mas foi eu terminar de me arrumar para entrar no mar que veio um vento e uma nuvem preta cobriu tudo. Ficou mó frio de repente. Aí desisti e fui pro rochedo. Pra subir precisei ajuda de 2 casais diferentes. Tiveram literalmente que me puxar. Perdi mais 25 minutos só pra subir os 5 metros de rocha. 

A rocha

Fiz o resto da caminhada meio que com pressa, por causa do horário do ônibus. Que ironia. Eu achava que ia terminar a caminhada umas 2 da tarde e que ia ficar entediada esperando por esse ônibus até 16:50 da tarde. Não foi assim.

Cheguei em Galdana 16:25. Joguei tudo na areia e entrei no mar por 5 minutinhos somente porque eu precisava fazer um pipi e não tinha tempo de ficar caçando banheiro.

Os peixinhos, aquela água gelada, umas gringas olhando pra mim (porque eu entrei com tudo na água) e dizendo que a água está gelada. Eu sei! Senti quando a água entrou embaixo da blusa de neopreno.

Saí daquela água e fui para o ponto do ônibus.

Cheguei 5 minutos antes do ônibus encostar. Só eu no ponto. Aproveitei e tirei a roupa molhada e vesti uma roupa seca. Lembrei que o ônibus tinha poltronas de estofado e eu tinha medo de que se o cobrador visse que eu estava toda molhada, não me deixaria entrar no ônibus. 

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