Finados

No terceiro dia de caminhada estava um nevoeiro denso de manhã cedo até umas duas da tarde. Essa foi a caminhada mais difícil que fizemos. Duas horas e meia de subida até o lago Lac Blanc. O triste foi fazer todo o esforço para subir e não poder ver nada, pois estava tudo encoberto.

Eu sentei na frente do lago e comi meu sanduíche. O resto do pessoal foi na casinha do refúgio tentar comprar algo quente para beber. Vinte minutos mais tarde eles voltaram de mãos abanando. Disseram que tinha tanta fila, que não daria tempo para pegar a bebida.

Nosso guia explicou que os refúgios são abastecidos com helicópteros.

No meio da tarde o tempo começou a abrir e finalmente tivemos uma tarde ensolarada. Quando está nublado nas montanhas, faz o maior frio, mas assim que o sol aparece, a sensação muda radicalmente. O sol apareceu e foi um tal de tirar roupa, achar óculos de sol, chapéu, passar filtro solar, e tirar muitas fotos, porque esse  foi a única oportunidade de tirar boas fotos das montanhas. 

Quando o sol apareceu, vieram varios helicópteros. Não parava o barulho e muitas vezes a gente escutava mas não dava para ver onde o helicóptero estava sobrevoando.

Cheguei a me perguntar quando será que vai parar essa barulheira. Até então eu achava que estavam abastecendo os refúgios.

No dia seguinte veio a notícia de que os helicópteros estavam recolhendo os corpos de 4 turistas. Dois italianos e dois sul coreanos que estavam aguardando por socorro fazia 3 dias e morreram de exaustão pela hipotermia.

Achei isso triste, e não entendi como eles estavam esperando resgate há três dias. Três dias antes era sábado e estava um sol maravilhoso. Foi o dia que eu cheguei e fiquei tostando na sacada, lembra? Como que o resgate não conseguiu chegar neles com um sol daqueles? Eu sei que depois disso o tempo virou feio, mas se eles pediram resgate no sábado, porque não agilizaram as coisas? No domingo de manhã o tempo ainda estava mais ou menos e conseguiram resgatar um outro casal sul coreano. Fico imaginando em que canto da montanha esses quatro se enfiaram que o resgate não conseguia chegar neles. E que desespero. Três dias e três noites esperando.

No dia que fiquei sabendo dessas quatro mortes, eu comecei a receber mensagens de gente que mora na Dinmarca e queria saber se eu estava bem e me mandando ser cuidadosa. Calhou que nesse mesmo dia, um cidadão dinamarquês morreu no Mont Blanc. Os jornais disseram que se tratava de um homem de 60 anos de idade e ele caiu de uma área chamada ninho d’águia.

Curiosamente, bem nesse dia, o meu grupo fez uma caminhada e eu tirei uma foto com o ninho d’águia bem atrás de mim. O guia estava explicando que o ninho fica ao lado da geleira e é uma área muito íngreme, e que, se não me engano, o trem vai até lá perto. O Dina que foi fazer caminhada lá estava completamente sem noção do perigo.

Então, tia Cris passa 5 dias caminhando no Mont Blanc e 5 mortes acontecem no mesmo período. Coincidência ou será que a onda de infortúnio está se alastrando? 

Ninho d’águia
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