Primeiro dia estava ensolarado e deu praia. A cor do mar em Nice é realmente linda, mas não tem areia naquela praia. Só pedras. É muito desconfortável.
Depois deu um forró no meio do chafariz.
Fernanda organizou uma festinha surpresa. Ela me convidou para comer num restaurante brasileiro, só eu e ela. Topei. Cheguei lá, a maior galera nos esperando. Foi muito bacana. Ainda colocaram umas velinhas num gateau ao chocolat. Fiquei até emocionada.
O dia inteirinho foi drama. Um dos casais na minha festinha surpresa se desintenderam e foi um bafafá. Não se falava de outra coisa nesse dia. Ainda bem que isso não ocorreu no dia do meu niver. Rsrsrs.
O dia começou com um suco e café num bar, um sushi pro almoço, dança no por do sol na beira do mar perto da placa do I Love Nice, e terminou com uma sopinha num restaurante chinês. A impressão que tive é que passei o dia todo sentada em restaurantes ouvindo o drama dos outros, mas confesso que foi muito mais animado do que viajar sozinha como eu costumo fazer!
Não me lembro se eu comentei que minha boa amiga Fernanda, que mora em Aarhus, do outro lado da Dinamarca, resolveu ir embora de volta para o Brasil depois de ter morado 21 anos na DK.
Eu a conheço desde 2016, quando ela veio para o festival do Forró Copenhague. Naquela época eu estava junto na organização do evento e eu e Fernanda trocamos vários emails, pois ela tinha algumas perguntas de como comprar o ingresso e tal.
Eu lembro de quando ela chegou na primeira festa. Sorrisão. Ela falou assim: você que é a Cris? Ficamos amigas imediatamente. E ela tem a maior energia e cara de alguém que está nos seus vinte e poucos anos de idade. Ela quase me matou de susto quando me disse que tem praticamente a minha idade. Não parece nem num pouco.
Nos damos muito bem, somos do mesmo signo, mas somos muito diferentes em vários aspectos. Conversamos sobre tudo e viajamos muito juntas para um bocado de festivais. Até pra festival de kizomba ela me levou.
No início de 2018 ela estava considerando ir embora da Dinamarca. Na época ela estava desempregada havia 2 anos, estava bem difícil achar emprego. Mas o que estava estressando era que o auxílio desemprego ia acabar em breve. Aí ficaria difícil sobreviver.
Lembro que eu fiquei tão triste quando ela me falou que ia embora em 2018. Aí viajamos juntas para Londres para o festival de forró lá. Seria nossa despedida.
Mas olha como coisas inesperadas acontecem nessa vida da gente. Durante o festival ela se encantou com um brazuca dez anos mais novo que ela. Eles acabaram virando namorados. Na volta daquela viagem, quando ela chegou no aeroporto, zuando, ela disse para o pessoal do aeroporto: ei, escuta aqui, vocês não têm um emprego pra mim aí?
Doida. Mas funcionou. Em menos de um mês ela foi oferecida dois empregos no aeroporto. Um no controle de segurança e outro fazendo check-in dos passageiros e controle do balanço dos aviões. Ela acabou aceitando a segunda opção, pois seria mais interessante. E foi.
De fato, foi tão interessante, que ela chegou a fazer o embarque da princesa Mary (que agora é a nossa rainha), e também do ator Johnny Depp, que veio fazer um show de rock na Dinamarca. Eu fui no show desse homem e o vi no palco, mas minha amiga fez todo o embarque dele e ficou de papo com ele por pelo menos uns 15 minutos até seu embarque. Eu lembro desse dia. Ela me telefonou e disse assim: adivinha quem eu vi no aeroporto hoje e fiz o embarque. Eu, que adoro esse tipo de adivinhação, pedi duas dicas e acertei na terceira tentativa! Eu tenho a foto que ela tirou com o Johnny, mas essa eu não posso publicar, ou minha amiga vai me matar. Ela sempre compartilha um monte de coisas na mídia, mas ela nunca compartilhou essa foto. Então imagino que seja um segredo que poucos sabem.
Em 2018, quando Fernanda acabou ficando na Dinamarca por causa do emprego novo e do novo namorado, eu fiquei aliviada. Achava que continuaríamos em contato. Ledo engano. Nos falamos muito pouco nos três anos que ela estava com aquele namorado. Nos vimos somente uma vez naqueles três anos, e foi só porque aquele namorado era DJ de forró, ele ia tocar num evento na cidade, e eles precisavam de um lugar para dormir em Copenhague. Ficaram lá em casa. E eu nem pude dar muita atenção, porque era período de provas e eu estava fazendo o meu mestrado. Foi aquele ano que eu tinha reprovado e tinha que refazer a prova.
Aquele emprego dela no aeroporto consumia todas as energias e nem pagava bem. Ela mal conseguia o suficiente para pagar as contas. E aqueles horários. Ela tinha que sair de madrugada para fazer embarque de passageiros 4 da manhã. Outras vezes trabalhava até tarde da noite, pra lá de meia noite, porque se um voo atrasa, tem que ficar lá esperando. Ela nunca tinha tempo para nada, e quando tinha, ela dava prioridade falar com o namorado. Claro. Isso eu entendo. E ele morava em Londres, então ela viajava pra lá sempre e nunca mais viajamos juntas.
Confesso, eu tinha ficado mega chateada de ter perdido o contato com ela. Cheguei a pensar que teria sido melhor se ela tivesse ido embora de vez. Tenho certeza de que se ela tivesse ido embora, a gente teria mantido mais contato.
Mas nada dura pra sempre. O namoro deles acabou três anos mais tarde de uma maneira até desrespeitosa. Foi no dia do aniversário dela. Não entendo como os caras conseguem ser tão desonestos e sem consideração. Minha amiga chorava o tempo todo. Eu fui a Aarhus duas vezes naquele mês ver se dava uma animada pra ela.
Demorou pra passar a tristesa. Mas tudo passa nessa vida.
A gente voltou a conversar e até a viajar juntas para forró. Se você vasculhar o blog, vai ver que fomos ano passado para Hamburgo juntas, depois Berlim. Esse ano fomos juntas pro forró na Itália, depois Berlim. Aí ela solta outra bomba.
Ela cansou da Dinamarca e estava pensando em ir embora. Dessa vez eu não fiquei triste. Dessa vez eu entendo os motivos de querer ir embora. Eu sei o quanto a gente se sente solitária nessa país, que é difícil fazer amizade, e o clima não ajuda. Então comecei a incentivar.
Minha amiga já deu aviso prévio para entregar o apartamento, para sair do trabalho, já mandou cancelar um monte de coisas, já começou a vender um monte de tralha, porque não vai poder levar tudo. E já comprou a passagem pra ir embora em meados de Novembro. Agora vai.
Para a nossa despedida, ela perguntou se eu queria ir para Nice, na França, para passar o meu aniversário lá. Teria um festival de forró na cidade.
Eu conheço Nice e conheço aquele festival. Adorei Nice e as cidadezinhas ali vizinhas quando fui em 2019, mas eu achava que já tinha visto tudo que a cidade tinha pra oferecer e não tinha motivo para voltar lá. E o forró em Nice em 2019 não foi bom pra mim. Quase ninguém queria dançar comigo. Fiquei muito encostada na parede. Então eu não sabia se valeria a pena ir pra Nice esse ano.
Acabei que aceitei e levei isso como uma oportunidade para me despedir da minha amiga. Compartilhamos hotel. Mas eu tinha zero expectativas para essa viagem.
Olha. Foi a melhor viagem desse ano. Me diverti demais, ri demais, fiz amizades. Encontrei gente que se lembra de ter dançado comigo em Praga em 2018, encontrei gente que eu não via desde antes da pandemia. Fernanda organizou uma festinha surpresa para mim num restaurante brasileiro. Apareceram 8 pessoas para comemorar conosco e ainda pagaram a minha conta, que foi bem cara. Eu gastei 40 euros. E o forró foi ótimo. Dancei muito. Mas muito. Tiramos um monte de fotos. Depois eu publico algumas.
Então foi uma ótima despedida.
Mas ficou faltando uma saideira, pelo visto. Um dia antes de ir embora de Nice, Fernanda diz que precisa de ajuda para terminar de tomar umas biritas que ela tem no armário em Aarhus. Ela convidou uns pinguços (e aparentemente a tia Cris está nessa lista) para ajudar a beber tudo durante o fim de semana. A idéia é tomar todas, fazer uma comidinha juntos, e empacotar umas coisas. No entanto, não necessariamente nessa ordem.
Eu descobri que adoro ver festival de luzes. Aqui em Copenhague começaram a fazer um anos antes da pandemia. E eram bem poucas luzes que eles colocavam na cidade. Mas foi crescendo e crescendo e a cada ano fica mais legal. O único inconveniente é que é no mês de fevereiro e esse é o mês mais frio do ano. Tem que vestir muita roupa para aguentar caminhar por horas nas ruas caçando luzes. Lembro que uma vez eu levei uma garrafa térmica com chá quente para aquecer um pouco o corpo durante a caminhada.
Isso aqui em Copenhague.
Lá em Berlim, eles fazem o festival de luzes há 20 anos. Sempre em outubro. Eu ouvi falar desse festival primeira vez em outubro de 2016. Eu estava na cidade por causa de um evento de forró e estava tendo o festival de luzes. Infelizmente eu não fui ver, porque eu estava paquerando um cara. Ao invés de acompanhar uma amiga (a Bárbara), eu dei o maior cano nela para ficar de papo furado com o alemão (que diga-se de passagem foi o cara que mais me fez sofrer). Naquela época eu não sabia que o festival de luzes lá é tão bonito.
Me arrependi e depois disso não consegui mais voltar em Berlim para ver o festival de luzes.
Mas desse ano não passou. Quando vi que estavam comemorando 20 anos de festival, eu comprei passagem de última hora e fui.
A maioria das luzes estavam num trecho de 5 km. Por sorte não estava chovendo. Eu caminhei da praça Potsdamer, passando em seguida pelo portão de Brandenburgo, subindo até a catedral e depois passando pelo bairro São Nicolau. Eu ia esticar até a Alexander Platz, que ficava só mais 500 metros pra frente, mas achei que não valeria a pena. Já eram quase onze da noite e ele iam desligar as luzes. O festival vai das 19 até 23 horas e bloqueiam um monte de ruas para deixar o povo passear a vontade.
Achei o festival muito variado. Tinha luzes estáticas, como a projeção de um tigre no prédio da Potsdamer Platz. Em outros prédios eles mudavam a projeção o tempo todo com cores diferentes, como na catedral. E em alguns prédios a projeção era um vídeo contando uma história. Assim foi no portão de Brandenburgo e num Hotel de Roma.
O do portão Brandenburgo estava fenomenal. Eu fiquei uns 15 minutos parada ali apreciando. Teve um povo gravou a apresentação toda e colocaram no YouTube. Meu favorito aparece no vídeo do minuto 7:37 até 9:40.
Minha nossa senhora, que minhas amigas, de vez em quando, me deixam doidinha.
Em agosto desse ano eu fui a Berlim participar do festival de forró do Miudinho. Eu esperava encontrar Bárbara lá, já que ela foi ao Miudinho do ano passado e pareceu que gostou muito, apesar dela ter dito em 2017 que ia parar de ir em festivais de forró. Eu não conversava com Bárbara desde 2018, porque fiquei muito chateada com umas coisas que aconteceram naquele ano e no ano anterior, e com o que ela falou pra mim nessas ocasiões. Cheguei a bloqueá-la no Face e Insta, mas ela me achou no LinkedIn e me escreveu por lá. Achei interessante a sua persistência.
Os anos se passaram, veio covid, e só voltei a Berlim no ano passado. Fui somente para o Miudinho. Ao ver Bárbara lá, minha intensão era ser cordial, cumprimentá-la e nada mais. Mas para minha surpresa, ela tirou da bolsa dois ou três livros sobre o Japão e isso me intrigou. Ano passado eu estava com passagem marcada para o Japão e eu queria saber que lugares ela tinha visitado e o que tinha achado em geral.
Acabei que concordei encontrá-la no apartamento dela depois do festival e de lá fomos num restaurante japonês. Eu tenho uma tendência de guardar rancor, mas me superei. Conversamos muito bem nesse dia, e ela contou sobre a viagem para Osaka e Kyoto.
Isso foi ano passado.
Esse ano, em agosto, eu achava que encontraria Bárbara no Miudinho novamente, e que poderíamos nos encontrar para conversar sobre a minha viagem ao Japão e comparar experiências. Mas ela não apareceu no festival.
Escrevi para ela, e ela me pediu para falar com o organizador do festival e ver se dava para ela comprar entrada para o último dia somente (era um festival de 3 dias). Tive que falar com umas três pessoas e no final das contas, o organizador aceitou meu pedido. Isso foi no sábado. No domingo, que era o último dia do festival, o organizador olha pra mim e me pergunta: cadê a Bárbara? Estou esperando ela aparecer para liberar a entrada dela, disse ele.
Depois de todo o meu empenho para conseguir entrada para um dia só, ela não apareceu e não deu satisfação ou uma desculpa!?
Fiquei mordida, mas deixei passar. Escrevi para ela e marcamos de nos encontrar no dia seguinte. Ela tinha uma viagem de negócios de manhã mas ia me escrever de tarde.
Eu fui pro parque. Estava um calor doido em Berlim e eu fui me deitar debaixo de umas árvores. Bárbara demorou para escrever e combinar direitinho nosso encontro. Acabou que não deu certo, pois eu tinha que ir para o aeroporto. Mas foi de boas e eu disse que a gente podia se ver em outubro, que eu tinha planos de voltar a Berlim.
Desde 2016 que eu tenho vontade de ver o festival de luzes em Berlim, mas nunca deu certo. Decidi que desse ano não passava e de última hora comprei minha passagem. Uma semana antes da viagem escrevi para Bárbara perguntando, e aí moça, vem ver o festival comigo no sábado que vem?
Ela me explicou que na quinta seria feriado na Alemanha toda e ela tinha planos de viajar com o marido. Que não podia me encontrar no sábado mas que podíamos comer algo juntas no domingo de tarde. Combinado então.
E não é que no sábado de manhã, assim que eu cheguei em Berlim, ela me manda um monte de mensagens dizendo que está com vontade de tomar um coquetel, e perguntando se eu quero encontrá-la umas 9 da noite perto do apartamento dela.
Fiquei confusa. O festival ia das 19h até 23h e eram 5 km de percurso. Bárbara conhece bem o festival e sabe que leva horas até ver tudo. E no fim das contase eu fui até Berlim só para ver esse bendito festival. Se eu fosse até o bairro dela 9 da noite, eu perderia de ver mais da metade das luzes. E ela me bombardeava com mensagens com sugestões de bares e restaurantes e a localização deles no Google Maps.
Para dar um basta nessa doideira tive que ser honesta e lembrá-la de que ela tinha me dito que não estava disponível no sábado e por isso eu já tinha feito outros planos. Mantivemos então nossos planos de encontro no dia seguinte no restaurante japonês.
No domingo, antes de fazer o check out do hotel, eu tentei achar o endereço do restaurante. Como ela mandou muita mensagem com endereço de restautante, eu fiquei confusa, mas finalmente achei o endereço de um restaurante japonês no meio daquelas mensagens. Fui caminhando até lá, pois eram somente 6 km de distância, passando pelo parque. Fui devagar. Íamos nos encontrar somente 3 da tarde e eu saí do hotel meio dia. Eu tinha tempo de sobra e o dia estava nublado mas sem chuva. Bom para caminhar.
13:15 mais ou menos, eu comecei a enrolar, porque já estava faltando pouco para chegar no restaurante. Cogitei se deveria fazer um passeio de barco. Acho que já fui a Berlim umas 12 vezes, mas nunca fiz um passeio de barco. O passeio é de 60 minutos e eu achava que daria tempo bem certinho. Fui comprar o ingresso mas vi que o próximo barco só saía às 14h. Que pena. Nesse horário não dava certo nos meus planos.
Continuei caminhando e por acaso dei de cara com a Charité, que é um hospital e centro de pesquisas. Eu achava que a Charité era um prédio alto branco, mas descobri eles têm um campus inteiro, com prédios históricos e lindos. E um museu! Eu estava prestes a pagar 5 euros para entrar no museu, quando Bárbara escreve dizendo que ela tinha me enviado tantos endereços no dia anterior, que achava melhor me mandar novamente o endereço do lugar onde íamos nos encontrar daqui a pouco.
Fiquei chocada ao ver que o endereço ficava do outro lado da cidade, e Google dizia que de transporte público me levaria 50 minutos para chegar lá. Já eram 13:50.
Abandonei a ideia de entrar no museu da Charité (vai ficar pra próxima, porque me pareceu ser um museu bem interessante) e fui direto para a estação central, onde me bati para comprar o bilhete de trem. Comprar passagem naquela estação é sempre uma confusão.
Para piorar a situação, desci na estação errada, e tive que tomar mais um trem. Depois, na estação certa, eu tinha 2 opções. Ou caminhava 22 minutos ou tomava um ônibus. Com as pernas cansadas, resolvi esperar o ônibus, que chegou atrasado.
Eu cheguei no restaurante 15 horas em ponto, para descobrir que Bárbara não tinha feito reserva de mesa e eles estavam com todas as mesas reservadas. Acho que levantei uma sobrancelha quando ouvi aquilo. Tinha uma mesa vaga que estava reservada para 15:30. Nos deixaram sentar ali. Porém 15:25 as pessoas da mesa chegaram e nos mandaram sair dali. Eu não tinha ainda nem tomado metade do meu chá!
Sobremesas japonesas e Charité
Enfim, Bárbara é meio confusa e me deixa doidinha com essas situações.
De lá fomos caçar street art, mas no meio do caminho, depois da tia Cris ter tomado meio litro de chá, tive que fazer uma parada de emergência para um xixi num restaurante italiano. Acabamos que ficamos no restaurante por uma hora batendo papo. Nos atendeu um garçom muito doido que só falava italiano. Acabei comendo um nhoque bem gostoso e de lá fui para o meu hotel na frente do aeroporto.
Domingo de manhã, desci para tomar café da manhã umas 9:15. Eu tinha que fazer o check out do hotel até meio dia e meu plano era tomar café até umas dez, depois tomar um banho de banheira, fazer a mochila e zarpar. Naquela tarde eu tinha combinado de encontrar uma amiga que mora em Berlim no bairro Mitte. Ela queria comer num restaurante japonês.
O hotel estava lotado e acho que todo mundo resolveu ir tomar café no mesmo horário. É um hotel grande, com mesas em dois salões. Eu dei duas voltas e não consegui achar um lugar pra mim. Então numa mesa alta perto do buffet tinha uma senhora alemã sozinha e eu pertuntei se poderia sentar com ela. Ela disse que sim.
Achei que seria como os dinamarqueses, que não conversam com ninguém, mas não foi assim. Ela puxou papo e acabamos que conversamos sobre um monte de coisas. Ela contou que veio para Copenhague no verão e a sua bicicleta foi roubada na frente do museu de arte moderna. Contou que foi para Berlim porque para eles é o feriado da unificação da Alemanha e ela aproveitou para tirar a semana de folga e visitar vários museus. Disse que vem de uma vila perto de Stuttgart, e eu contei que estive em Stuttgart visitando o museu da Mercedes Benz em 2004. Aí ela me contou que quando ela era pequena, o pai dela trabalhava pra Mercedes, e que eles podiam trocar de carro a cada dois anos através da empresa. Disse que o pai dela ficava doidinho com as crianças dentro do carro, porque o carro não podia ter um arranhão nem por dentro nem por fora na hora de trocar . Ela contou um monte de coisas interessantes. Aí eu disse que fui para Berlim para ver o festival de luzes. Eles comemoram 20 anos do festival e eu achava que seria especial.
Conversamos tanto, que chegou uma hora eu me toquei que não tinha perguntado o nome dela. Mas qual seu nome?
Cristiane.
Eu fiquei confusa e sem reação ao ouvir o meu nome. Meu cérebro estava tendando entender. Ela de certo achou que eu não tinha entendido e disse a frase toda: “O meu nome é Cristiane”.
E eu falei: “O meu nome é Cristiane”.
Você se chama Cristiane também? ela perguntou. Sim! Mas eu não tinha nem um documento comigo. Abri no celular o email da confirmação do hotel, dizendo Bem-vinda Cristiane.
Acabamos trocando número de telefone e umas mensagens de Whatsapp. Quem sabe manteremos contato.
Eu nunca antes tinha encontrado uma gringa com nome Cristiane. Na verdade, o nome dela tem H. Christiane. Mesmo assim. É muita coincidência. Tanta gente naquele salão e eu vou parar bem ao lado da minha xará.
Nisso, eu me toco que ficamos conversando tanto, que já eram 11 da manhã. Eu tinha que deixar o quarto meio dia! E eu que achava que teria tempo para um banho demorado de banheira. Que nada. Foi banho de gato. Fiz minha mochila correndo e fui para o parque Tiergarten que ficava no caminho para o restaurante japonês.
Bom, eu achava que o Tiergarten ficava no caminho e que eu estava caminhando para o lugar certo, mas 60 minutos antes do encontro descobri que eu caminhei 6 km na direção oposta do restaurante. Mas essa história eu conto outra hora.
Ontem, segunda-feira, achei que ia passar o dia no trabalho como um zumbi. Acordei três e meia da manhã. Em Berlim.
Meu avião de Berlim para Copenhague sairia 6 da manhã e eu dormi num hotel a 15 metros do aeroporto. Muito conveniente. Mas eu não dormi bem. Me deitei umas nove da noite e eu acordava de uma em uma hora e checava o relógio. Acho que eu estava preocupada em perder o horário. Então não descansei nada.
Eu só precisava estar no aeroporto umas 4:45, então enchi a banheira e fiquei de molho por uns vinte minutos.
No aeroporto sempre tem que passar o controle de segurança. Muitas vezes é tranquilo, mas tem dias que eles encrencam com a gente. Me chamaram de lado, apalparam minha bota, me mandaram levar o pé para mostrar a sola do sapato. A mulher não entendia que o meu tornozelo não me deixava fazer aquele movimento e eu tinha que me apoiar no equipamento dela. Enfim. Mas até que foi de boas.
O avião saiu no horário e chegou em Copenhague em hora de pico. Tomei um trem mega lotado até o escritório, que agora é um container no meio do estacionamento! Tanto prédio bonito ali, e mudaram a gente duas semanas atrás para um prédio feito de container. O bom é que fica no estacinamento e eu economizo 5 minutos de caminhada até a estação. Perfeito. Especialmente ontem, já que eu estava carregando uma mochila pesada.
Eu reclamo que os meus colegas não falam comigo, mas ontem não me deixaram trabalhar. Era colega me ligando no celular para saber se eu quero participar de uma reunião, era gente vindo na minha mesa de meia em meia hora para perguntar não sei o que, era gente perguntando se eu podia mostrar como fazer isso e aquilo. Nunca fui tão requisitada antes. E eu gosto muito quando posso ajudar de alguma forma. Então eu acho que isso me deu energia ontem e não me deixou sentir cansada.
Estava até de bom humor quando saí do trabalho, que nada estava me incomodando. Nem mesmo o fato de ter começado a chover assim que eu deixei o prédio, ou de que investi nuns tampões de ouvido novos lá em Berlim, e quando cheguei em casa, percebi que não eram bons o suficiente para bloquear o barulho dos meus vizinhos. Ainda bem que eu ainda tinha uns tampões antigos na gaveta.
Dormi bem. Dormi tão bem que sonhei um sonho longo que mais parecia um filme. Engraçado é que sonhei com a minha antiga chefe. Aquela chefe que eu adorava. E junto com a minha chefe, na mesma casa, estava a minha antiga professora de piano. Não faz sentido nenhum esse sonho, já que essas duas pessoas são de lugares e períodos diferentes da minha vida. A única coisa que elas têm em comum, é o fato de eu adorar elas.
E no sonho eu estava apresentando um vídeo num evento na casa da minha antiga chefe. Todo mundo antes de mim apresentou uns vídeos curtos de um minutinho, mas o meu tinha mais de 5 minutos! E a gente lá assistindo o vídeo, e eu me sentindo toda envergonhada, porque aparentemente eu não tinha assistido ao vídeo antes (apesar de ter sido eu que tinha gravado as imagens), e não tinha editado, então estava mostrando um monte de coisa nada a ver, e o vídeo parou antes de chegar na parte mais importante, que seriam imagens de uma graduação ou uma festa.
Olha que sonho mais maluco esse! Como que eu gravo um vídeo e não sei quais imagens estão nele? Sonho de doido.
Em dezembro eu falei que ganhei num bingo de música durante a festinha de natal da empresa. Eu ganhei o segundo prêmio. Naquele dia, eu não queria sentar junto com meus colegas, já que eles me ignoram. Quando vi a Joyce (uma antiga colega de outra empresa) na mesa do lado, fui me sentar com ela e com o grupo dela. Ela estava sentada a minha esquerda.
Ontem teve uma atividade com o departamento todo. Quando cheguei de manhã, vi que tínhamos que sentar 4 pessoas em cada mesa. Eu fui uma das primeiras a chegar. Os meus colegas me ignoram num ponto, que ninguém vinha sentar na minha mesa. De repente escuto Joyce dizendo: vou sentar aqui com você. Ela se sentou a minha esquerda e em seguida colegas do grupo dela vieram também.
Antes do jantar, resolveram fazer um bingo de música. Dessa vez eram somente músicas dinamarquesas. Eu não conheço nenhuma e pra falar a verdade, não gosto das músicas dinamarquesas, então os 50 minutos dessa atividade foram um martírio. O que ajudou o tempo a passar é que eles jogavam chocolatinho nas mesas. Acho que comi uns 6.
No meio do bingo recebi uma mensagem de uma amiga brasileira dizendo que precisava falar comigo urgentemente. Fui lá fora no corredor fazer uma chamada telefônica para saber o que aconteceu. Nesse meio tempo Joyce ficou cruzando a cartela de bingo dela e a minha. Eu nem pedi isso. Eu não estava nem aí pra esse bingo chato que dava vontade de cortar os pulsos. Ela fez por cortesia.
De repente deu bingo. Alguém tinha conseguido cruzar uma linha inteira. Daí disseram que ia continuar até que alguém conseguisse preencher a cartela toda. E não é que foi a Joyce a grande vencedora?! Essa combinação de Cris e Joyce sentadas juntas, está funcionando bem. Eu, em dezembro, ganhei duas entradas para o cinema. Joyce ontem ganhou uma caixa de chocolates.
Se eu continuar trabalhando nesse departamento, veremos se conseguiremos repetir a façanha de ganhar no bingo!
Eu escrevi dois dias atrás que estava precisando de intervenção divina para mudar a energia dessa viagem.
Eu queria fazer o passeio da praia Galdana, mas só tem um ônibus para ir 9:30 da manhã saindo de Mahon e um ônibus para voltar 16:50.
Meu hotel fica na vila Es Castell a 3 km de distância de Mahon. Para chegar em lá a tempo, eu achava que teria que pegar o ônibus das 8:35 e esperar na rodoviária de Mahon por 45 minutos. Isso não me animava e seria bem cansativo.
Tem outro ônibus saindo de Es Castell 9:10 da manhã com previsão de chegar em Mahon 9:20, mas e se atrasar? Três dias atrás o ônibus atrasou mais de 10 minutos. Se isso acontecer, lá se vai a chance de ir pra Galdana. Arriscado demais.
E aquela ventania me desanimando.
Fui dormir desmotivada e decidi deixar o destino me guiar. Desliguei o despertador e coloquei tudo nas mãos do universo.
Santo universo…
Ontem acordei naturalmente 7 da manhã me sentindo revigorada. Tomei banho sem pressa. Tomei meu café da manhã reforçado com calma e fui pro quarto 8:40. Resolvi colocar um biquíni na mochila e calculei que horas sair do hotel para pegar o ônibus das 9:10. Começou a chuviscar bem na hora que sai do hotel mas vi parte de um arco-íris.
Caminhei dez minutinhos debaixo de chuva. Uns pedreiros mexeram comigo. Cheguei no ponto e dava para ver o arco-íris inteiro. Eu adoro observar arco-íris. Vi um no meu último dia na os Alpes franceses e agora um aqui.
Para minha surpresa, o ônibus chegou com 5 minutos de antecedência. D
Até todos os passageiros entrarem e pagarem passagem, demorou um pouquinho, mas o ônibus saiu no horário certinho, 9:10 da manhã. Chegou em Mahon 9:18.
Eu não esperava por essa. Foi perfeito e deu tempo de pegar o busão para Cala Galdana as 9:30.
Uma hora de viagem.
Cheguei em Galdana, que fica no sul da ilha, e lá não tinha vento. Outra bela surpresa. O tempo estava lindo. Maior sol.
Praia de areia branquinha e fininha. Água cristalina. Uns peixinhos nadando na beira da praia. Mas muita gente. Praia abarrotada.
Liguei o AllTrails no celular para me guiar e fui fazer a trilha. 11 km, mas acabei andando 13 km porque desviei duas vezes para ir nuns miradores.
Praia Cala Mitjana
O aplicativo dizia que demora em média 3 horas e 2 minutos para completar essa trilha. Eu fiz a trilha em 4 horas e 45 minutos (sem contar as paradas para descanso – no total eu usei 5 horas e 28 minutos).
Eu queria ter feito mais pausas para descansar as pernas e entrar no mar. Aquela cor verde da água estava me chamando. Como a água estava gelada, quando batia o vento, eu achava que ia morrer de frio. Então fiquei enrolando e deixei para entrar no mar no final da trilha, na última praia, antes de fazer o retorno.
Passei por 5 praias diferentes. Três delas com areia branca e fina. Mas as duas últimas praias não tinham areia. Era só pedra. Não tive coragem de entrar no mar ali porque achava que ia machucar o pé. Aí tive que repensar minha estratégia de banho de mar, e resolvi que ia tomar banho de mar em Trebalúger, que era a terceira praia com areia lá não tinha muita gente.
Cala Escorxada
Porque eu tinha acreditado no AllTrails e achava que seria uma caminhada de somente 3 horas, eu não tinha trazido nada para comer na mochila. Tomei café da manhã 8 horas e só comi novamente as 18 horas durante a pausa para trocar de ônibus em Mahon. Eu vou te contar, depois de caminhar por 5 horas, eu estava com a maior fome! E sede, pois eu levei 1,5L de água e deveria ter levado 2 litros.
Foi muito bom caminhar. Bati papo em francês, em italiano, em inglês e em espanhol. É nessas horas que vale a pena o meu investimento em aprender idiomas. Adoro essas pequenas conversas com o pessoal durante minhas viagens.
Olha, eu passei por uns apertos nessa caminhada. Era muito rochedo e em alguns lugares eu estava completamente sozinha. Eu pensava: vou bem devagar, porque se acontecer algo comigo aqui, ferrou. Não é a toa que levei tantas horas pra completar a trilha.
Naquela praia chamada Trebalúger, eu perdi uns 25 minutos ali na Rocha tanto na ida quanto na volta. Ali tinha que descer da rocha direto na água e caminhar pelo mar por uns 10 metros, porque não tinha outra opção. As resenhas no AllTrails diziam que muita gente desistiu da caminhada justamente naquele lugar e deram meia-volta. Eu estava prestes a fazer o mesmo, confesso.
Fiquei observando por uns 10 minutos e vendo o nível de dificuldade para descer a rocha. Então vi um casal espanhol descer sem problemas. Me enchi de coragem e fui lá perto ver o que eles tinham feito de diferente. Foi aí que um outro casal espanhol olhou pra mim e disse: a gente te ajuda. Tirei os sapatos, puxei a calça legging pra cima do joelho, pendurei a bota de caminhada na mochila e o cara me segurou para eu descer o último metro até conseguir colocar o pé no chão.
Naquele horário a água dava no joelho, mas sabe a mentalidade de brasileiro, a gente pensa na maré. Perguntei pra eles quando a maré estivesse alta, onde a água bateria no corpo. Com muita tranquilidade eles me explicaram que o mar Mediterraneo não tem maré da mesma forma que os oceanos. Que a altura da água seria a mesma.
Beleza então. E não pensei mais nisso. Descer aquilo foi um Deus nos acuta, só quero ver subir isso na hora de ir embora.
O resto da trilha, andando sobre uns rochedos, parecia que eu estava andando no solo da Lua. Juro. Se não fosse o sol e o mar, eu pensaria num solo cinzento lunar.
Lindas paisagens. No entanto, como eu comentei, as praias daqui pra frente só tinham pedras. Mesmo assim o povo de Kaiak ia até lá ficar tostando no sol e fazer snorquel. Imagino que dá pra ver muito peixinho ali.
Na volta, quando retornei pra Cala Trebalúger onde eu ia tomar banho de mar, as coisas tinham mudado completamente de figura. A praia estava lotada e havia bastante nudista ali. Parei ao lado de um grupo de mulheres peladas e estava prestes a tirar minha roupa e colocar um biquíni. E não é que começo o strip tease e um casal de ingleses com quem puxei papo de manhã vieram conversar comigo? Perdi o rebolado e parei de tirar minha roupa.
Eu lembro que puxei papo com eles numa escalada de pedras. A gente estava sofrendo para subir e eu falei para eles que ali era o começo pra mim, que eu tinha planos de caminhar 10 km. De tarde, eles me reconheceram e perguntaram se eu tinha conseguido caminhar 10K.
Siiim! Eu já tinha caminhado 10.5, mas ainda me faltavam uns 3 km para voltar para Galdana.
Já eram 15:30. O tempo estava passando rápido e o único ônibus saia 16:50.
Eles foram embora, eu troquei de roupa. Coloquei o biquini e uma blusa de neopreno por cima (água gelada, né!). Mas foi eu terminar de me arrumar para entrar no mar que veio um vento e uma nuvem preta cobriu tudo. Ficou mó frio de repente. Aí desisti e fui pro rochedo. Pra subir precisei ajuda de 2 casais diferentes. Tiveram literalmente que me puxar. Perdi mais 25 minutos só pra subir os 5 metros de rocha.
A rocha
Fiz o resto da caminhada meio que com pressa, por causa do horário do ônibus. Que ironia. Eu achava que ia terminar a caminhada umas 2 da tarde e que ia ficar entediada esperando por esse ônibus até 16:50 da tarde. Não foi assim.
Cheguei em Galdana 16:25. Joguei tudo na areia e entrei no mar por 5 minutinhos somente porque eu precisava fazer um pipi e não tinha tempo de ficar caçando banheiro.
Os peixinhos, aquela água gelada, umas gringas olhando pra mim (porque eu entrei com tudo na água) e dizendo que a água está gelada. Eu sei! Senti quando a água entrou embaixo da blusa de neopreno.
Saí daquela água e fui para o ponto do ônibus.
Cheguei 5 minutos antes do ônibus encostar. Só eu no ponto. Aproveitei e tirei a roupa molhada e vesti uma roupa seca. Lembrei que o ônibus tinha poltronas de estofado e eu tinha medo de que se o cobrador visse que eu estava toda molhada, não me deixaria entrar no ônibus.
Esse ano encontrei dois mexicanos nas minhas viagens. Um deles foi no hotel em Bratislava em abril. Ele estava preparando os omeletes no restaurante do hotel para o café da manhã.
Muito simpático e brincalhão, me passou a maior cantada.
Deixei pra lá. Não me interessou.
Aqui na Menorca, no jantar do hotel, o rapaz fazendo as carnes também é mexicano.
Jantei no hotel somente duas vezes. Na primeira vez, eu estava pegando uma paelha e disse para ele a paelha estava com uma cara boa, que “está bela”.
Ele disse: Brasileira?
Eu: Como você sabe?
Ele: porque em espanhol se diz “rica”, “está rica”.
Aprendi algo novo. Daí ele me disse que é mexicano.
Isso foi uns três dias atrás.
Ontem jantei no hotel novamente. Eu com a maior vontade de comer um bifinho, fui até ele e pedi para fazer mal passado. Eu disse: mal hecha.
Ele riu e disse que “mal hecha” seria se ele jogasse a carne no chão e pisasse em cima dela. Aí eu ri.
Ele me explicou que em espanhol se diz “poco hecha”, ou seja, pouco passada. Aprendi mais uma coisa.
Na hora de colocar a carne no meu prato, ele me mostrou o ponto da carne e eu disse que estava “perfecta”.
Ele respondeu: perfecta eres tu.
Eu ri. Até a velhinha gringa do meu lado riu.
Esses mexicanos!
Eu já não estou acostumada com essas cantadas. Na Dinamarca, Suécia, Alemanha, Inglaterra, não se faz dessas coisas.
Nesses países, nem mesmo os pedreiros mexem com as moças passando na rua.
Nesses países não, porém aqui na Menorca ontem, um pedreiro mexeu comigo quando eu passei na frente de uma obra. Eu demorei pra me ligar, pois faz uns 20 anos que não escutava alguém mexer comigo. Eu olhei para ele lá em cimão e sorri. Aí sim que ele começou a fazer uma serenata. Rsrsrs
No terceiro dia de caminhada estava um nevoeiro denso de manhã cedo até umas duas da tarde. Essa foi a caminhada mais difícil que fizemos. Duas horas e meia de subida até o lago Lac Blanc. O triste foi fazer todo o esforço para subir e não poder ver nada, pois estava tudo encoberto.
Eu sentei na frente do lago e comi meu sanduíche. O resto do pessoal foi na casinha do refúgio tentar comprar algo quente para beber. Vinte minutos mais tarde eles voltaram de mãos abanando. Disseram que tinha tanta fila, que não daria tempo para pegar a bebida.
Nosso guia explicou que os refúgios são abastecidos com helicópteros.
No meio da tarde o tempo começou a abrir e finalmente tivemos uma tarde ensolarada. Quando está nublado nas montanhas, faz o maior frio, mas assim que o sol aparece, a sensação muda radicalmente. O sol apareceu e foi um tal de tirar roupa, achar óculos de sol, chapéu, passar filtro solar, e tirar muitas fotos, porque esse foi a única oportunidade de tirar boas fotos das montanhas.
Quando o sol apareceu, vieram varios helicópteros. Não parava o barulho e muitas vezes a gente escutava mas não dava para ver onde o helicóptero estava sobrevoando.
Cheguei a me perguntar quando será que vai parar essa barulheira. Até então eu achava que estavam abastecendo os refúgios.
No dia seguinte veio a notícia de que os helicópteros estavam recolhendo os corpos de 4 turistas. Dois italianos e dois sul coreanos que estavam aguardando por socorro fazia 3 dias e morreram de exaustão pela hipotermia.
Achei isso triste, e não entendi como eles estavam esperando resgate há três dias. Três dias antes era sábado e estava um sol maravilhoso. Foi o dia que eu cheguei e fiquei tostando na sacada, lembra? Como que o resgate não conseguiu chegar neles com um sol daqueles? Eu sei que depois disso o tempo virou feio, mas se eles pediram resgate no sábado, porque não agilizaram as coisas? No domingo de manhã o tempo ainda estava mais ou menos e conseguiram resgatar um outro casal sul coreano. Fico imaginando em que canto da montanha esses quatro se enfiaram que o resgate não conseguia chegar neles. E que desespero. Três dias e três noites esperando.
No dia que fiquei sabendo dessas quatro mortes, eu comecei a receber mensagens de gente que mora na Dinmarca e queria saber se eu estava bem e me mandando ser cuidadosa. Calhou que nesse mesmo dia, um cidadão dinamarquês morreu no Mont Blanc. Os jornais disseram que se tratava de um homem de 60 anos de idade e ele caiu de uma área chamada ninho d’águia.
Curiosamente, bem nesse dia, o meu grupo fez uma caminhada e eu tirei uma foto com o ninho d’águia bem atrás de mim. O guia estava explicando que o ninho fica ao lado da geleira e é uma área muito íngreme, e que, se não me engano, o trem vai até lá perto. O Dina que foi fazer caminhada lá estava completamente sem noção do perigo.
Então, tia Cris passa 5 dias caminhando no Mont Blanc e 5 mortes acontecem no mesmo período. Coincidência ou será que a onda de infortúnio está se alastrando?
Não sei se você leu o artigo Infortúnio que escrevi dia 13 de junho.
Eu comentei que esse ano estou passando por uma maré de má sorte com minhas férias e estava com medo que a tão esperadas férias de verão seriam afetadas também.
Pois é…
Vou desabafar. Sei que para muitos o que vou escrever é problema de luxo, mas para mim não é. Pense no quanto eu detesto a minha vida na Dinamarca. Detesto aquele país, o clima, os dinamarqueses, o meu trabalho, o meus vizinhos, tudo… A única coisa que gosto é o salário que me proporciona poder fugir de tudo aquilo por 6 semanas ao ano. Seis semaninhas para sumir e tentar ser feliz por uns dias.
Eu queria muito que minhas férias de verão tivessem incluído sol, calor, belas paisagens, belo mar, boa comida, gente bacana. Mas não está sendo assim.
Estou em Menorca e estou entediada, cansada, e desmotivada. E ainda faltam cinco dias para eu poder voltar pra casa.
Estou cansada, não só porque o meu trabalho na Dinamarca tem me consumido todas as energias, mas também porque minhas férias começaram com um passeio de trilhas nos Alpes que foi bem cansativo. Cansa acordar todo dia 6 da manhã depois de várias noites mal dormidas e fazer tudo correndo para:
Tomar café 7 em ponto
Preparar a lancheira as 7:45
Estar pronta, linda e sorridente para sair com o grupo 8:10
Pegar dois ônibus lotadérrimos até o início da trilha
Fazer trilha sentindo dor de barriga (e engraçado, vontade de ir ao banheiro dava o tempo todo quando estava caminhando, mas era só ver um vaso sanitário que o intestino se negava funcionar)
Eu adoro o sobe e desce montanha para ver a paisagem. Mas que paisagem que vi? Estava tudo encoberto por nevoeiro ou nuvens a maior parte do tempo. E parece que cansa mais quando está fazendo frio e chuva. Não dava nem para fazer uma boa pausa e recuperar as energias, porque o corpo esfriava rápido e havia risco de ficarmos doentes. Então foram muito poucas pausas nas caminhadas.
Depois de passar frio o dia todo, a gente quer voltar para um hotel quentinho, mas o meu quarto estava uma friagem só. O hotel se recusou a ligar o aquecimento porque “estava muito cedo, estamos somente em setembro”, disse a recepcionista. Sim, eu sei que está cedo, mas normalmente em setembro faz 20 graus porém hoje está 2 graus e nevando! Não ligaram os aquecedores. Passei frio de verdade.
Esse passeio de trilhas incluía um dia de folga. A sugestão era ver o interior da geleira (um lugar chamado mer de glace) e pegar o teleférico mais alto da Europa e subir até o topo da montanha (4000 metros de altura). Porém estava tão frio, que eu não tinha vontade de ir a lugar nenhum. Estava 13 graus abaixo de zero no topo da montanha. Eu trouxe roupa adequada para temperatura até uns 8 graus (acima de zero!). Além do mais, estava muito nublado. Pagar 70 euros, que é bem caro, para subir até o topo da montanha passar frio e não ver nada? Não vou. Posso ver as fotos no Google.
No meu dia de folga eu fiquei no hotel, mas não fiquei naquele meu quarto gelado. Fui para a área da piscina aquecida, pois lá estava quentinho. Fiquei sentada na beira da piscina lendo um livro por umas 3 horas. Depois fui pro mercado comprar um conhaque e tomei uns goles quando voltei no quarto. Bebida forte assim ajuda a esquentar. Enchi a banheira de água bem quente e fiquei de molho um tempão para esquentar o corpo.
E assim foram minhas férias de verão na França: passando frio e cansaço. Nada disso estava nos meus planos.
E também passei alguma irritação. Eu comentei que parte do meu grupo eram americanos e, se eu puder ser honesta, eles são um saco de aguentar. Povo que não cala a boca um minuto e falam bem alto com uma voz estridente. Aturar eles por uma semana foi um desgaste.
Eu mal via a hora de ir embora dos Alpes e vir para Menorca, achando que aqui estaria sol e calor.
Está sol, sim, mas uma ventania sem fim. Não dá vontade de sair do hotel.
Ontem tomei um ônibus e fui para Mahon, a capital da ilha, que fica 3 km de distância. Achei que passaria a tarde lá, mas depois de duas horas caminhando, eu estava entediada. A cidade histórica é pequenininha e me lembrou Paranaguá. Um mercado, umas igrejas, imagem de santo, ruas de paralelepípedo, umas ladeiras descendo para a rua da praia.
A área portuária em Mahon é mais feia que a área portuária da vila onde estou hospedada. Achei que não estava valendo a pena passear em Mahon e peguei o ônibus para voltar.
Chegando na minha vila, vi placas indicando o Forte Marlborough (parece até nome de marca de cigarro). É uma fortificação construída pelos ingleses no período que eles dominaram a ilha. Parece que esse forte foi escavado nas rochas e custa somente 3 euros para entrar. Achei que seria um lugar interessante para visitar e eram somente 2 km de caminhada até lá. Beleza. Fui.
Cheguei 15:30 para descobrir que o horário de funcionamento era até 14:45. Quem fecha um museu nesse horário? A maioria dos museus no mundo ficam abertos até 17 horas. A que horas fecha o museu dos jesuítas aí em Paranaguá?
Fiquei de cara. Caminhei 2 km por uma área árida cheia de vacas mugindo pra mim para achar o museu fechado? Ô meu pai, dá-me paciência. Nem preciso dizer que caminhei os 2 km de volta de mau humor e cada pernilongo que tentava me picar levava uma porrada com toda a fúria do meu ser.
De volta ao hotel, conversei um pouco com a recepcionista que me indicou descer até a praia Cala Galdana que fica no sul da ilha e fazer umas caminhadas por lá. As fotos na Internet da praia Galdana e das praias adjacentes estão maravilhosas. E eu estou precisando de algo maravilhoso na minha vida. Fiz toda o planejamento, porque só tem um ônibus saindo 9:30 de Mahon para Cala Galdana e somente um ônibus que volta, as 16:50.
Fiz minha mochila, deixei tudo preparadinho e fui dormir.
Hoje de manhã quando acordei, vi que o vento piorou muito. A ventania combinado com umas resenhas que li na Internet sobre as condições da trilha nessa área, me fizeram perder o tesão.
Várias resenhas recentes disseram que tem lugar rochoso perigoso e que parte da trilha está coberta pelo mar – para atravessar, a água vem na altura da barriga. Isso me desanimou de verdade. E agora? O que eu vou fazer para passar o tempo até a hora de ir embora?
Eu poderia pegar dois ônibus e gastar 90 minutos para ir até a cidade Ciutadella, lá do outro lado da ilha, mas não estou animando. Já pensou se for uma experiência como Mahon, onde fiquei entediada depois de 2 horas de passeio? Gastar 3 horas de transporte e não curtir?
Eu escrevi no início desse artigo que estou entediada, cansada, e desmotivada. Pelo visto, preciso adicionar “pessimista”. Acho que preciso de uma intervenção divina para mudar essa energia e levantar a bunda do sofá.
De vez em quando eu fico admirada das diferenças culturais entre países.
No Brasil, quando se está resfriado, a gente não assoa o nariz quando se está na mesa fazendo uma refeição. Se fizer, se faz descretamente.
No Japão não se assoa o nariz em público nunca. Nunca. Para eles o educado é ficar num funga funga o dia inteiro. Eles mesmo dizem: puxar pra dentro, sim, para fora, nunca.
Aff, trabalhar do lado de um cidadão que fica fungando o nariz o dia todo dá nos nervos. Vai no banheiro assoar esse nariz!
Aqui na Europa, pelo menos na Dinamarca, é normal e aceitavel assoar o nariz em qualquer lugar.
Mas não é aquela assoada discreta. É daquelas que se vê em desenho animado onde faz barulho, o lenço levanta voo e parece que o ranho se espalha pra todo lado.
Foi assim hoje no café da manhã. Umas francesas na mesa ao meu lado, assoando o nariz o tempo todo. Perdi até o apetite.
Estou sentadinha no meu quarto, com as pernas pra cima, comendo um iogurte de coco e apreciando a vista. Apreciando de dentro do quarto, porque está uma ventania do capeta lá fora e não tenho coragem de abrir a porta da sacada.
Estou toda compenetrada no meu iogurte quando veio aquela sensação de que alguém está me olhando.
Dito e feito. Levantei o olhar e vi um cara no quarto andar me observando.
Eu não saí do meu lugar. Fingi que não estava incomodada. Isso foi em torno das 17:30.
São 19:30 e o povo daquele quarto não se cansa de vir na janela observar. Tive que tirar um foto, porque a mulher está de binóculos!